segunda-feira, 22 de abril de 2013

Sorte nas telas, azar nos camarins


Eis que, neste especial sobre Stanley Kubrick, falaremos de A vida e morte de Peter Sellers (“The Life and Death of Peter Sellers”, 2004, Reino Unido), dirigido por Stephen Hopkins (e não por Kubrick) e estrelado por Geoffrey Rush (e não por Kubrick). Você deve estar se perguntando por que escolhemos este filme, onde nem o próprio Kubrick interpreta a si mesmo (primeiro porque ele já havia falecido e segundo porque acharam melhor dar o papel a Stanley Tucci, que não se parece em nada com ele mas é seu xará). Não adianta procurar na Wikipédia, eu conto a você: Kubrick foi o cara, todo cara tem seus ídolos, e Peter Sellers foi um deles. E pra fazer deste parágrafo o vencedor no quesito “mais menções a Kubrick”, eu digo: Kubrick.


Para os desavisados, Peter Sellers é o inspetor Clouseau de “A Pantera Cor de Rosa”, o que torna quase impossível não se lembrar dele. E em um filme que fala da vida de um artista, nada mais justo que darmos o crédito do sucesso ao ator que o interpreta. Dar vida a um personagem com maestria já é merecedor de aplausos, imagine então como deve ser difícil interpretar um ator e todos os seus personagens sem cair no limbo de um mero imitador. Geoffrey Rush cumpriu a tarefa com precisão e mereceu cada quilate do Globo de Ouro de melhor ator que ganhou pelo seu desempenho.


Posso dizer, inclusive, que a atuação de Geoffrey é o que faz o filme realmente valer a pena. Cheio de boas intenções, Hopkins errou a mão na estilização. Nada sem propósito, nada gratuito, mas nem por isso deixa de incomodar. Colocar Geoffrey para interpretar outros personagens do filme além de Peter Sellers, reconheço, foi uma boa sacada por representar a versatilidade do ator. Mas a solução encontrada pelo diretor expulsa o espectador da história do filme de volta para a sua realidade, causando estranhamento.


Acontece que, em diversos momentos do filme, personagens que conviveram com o astro de repente quebram a quarta parede e começam a se dirigir para o público, comentando a situação de Peter Sellers. E não para por aí! Quando os personagens fazem isso, eles têm o mesmo rosto de Sellers (no caso, o ator que o interpreta). É como eu disse: é justificável, mas o diretor conseguiu encarnar uma versão grotesca de Brecht. Num filme que tinha tudo para ser ainda mais envolvente, um elemento que acaba distanciando... Boa, Hopkins!


Fora isso, existem algumas referências geniais e hilárias. Para não perdermos o costume, a primeira cena em que Stanley Kubrick aparece merece destaque: No maior clima de suspense, com direito a elevador abrindo e corredor com tapetes e papeis de parede, fazendo alusão ao filme ícone do diretor. O que cativa mesmo, no entanto, é o desempenho de Geoffrey Rush. Com toque de mestre, ele nos apresenta um Peter Sellers de declarações de porte cinematográfico, um Peter Sellers que deixou de ser ator para ser personagem em tempo integral.


Uma curiosidade: Contando com o banner do especial, o nome "Kubrick" foi citado 9 vezes neste post. Ops... 10! Bem, para falar a verdade, eu não tenho muita certeza. Então, se você estiver disposto a contar pra mim (e esfregar na minha cara que eu deveria ter levado o Kumon a sério), fique à vontade!
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