Um dos períodos mais conturbados da recente história chilena é o Governo de Salvador Allende. Passaram-se décadas após sua morte (suicídio), mas permanecem diversas perguntas sem respostas. O estreitamento com a União Soviética, a oposição feroz da direita nacionalista e a insurreição militar que culminou na deposição (óbito) de Allende, foram momentos de euforia, ora para um, ora para outro lado do poder.
Em Machuca (“Machuca”, 2004, Chile), Andrés Wood retrata a complicada adaptação da sociedade chilena pela ascensão das camadas menos favorecidas. Ao propor a amizade entre Pedro Machuca (Ariel Mateluna) e Gonzalo Infanti (Matías Quer), Wood apresenta duas realidades diferentes, onde uma exclui a existência da outra. O filme é um estudo Rousseauniano sobre a ilegitimidade do contrato social entre ricos e pobres, onde estes concordaram com sua posição em troca de paz e segurança (fajutas).
Como o “bom selvagem”proposto pelo filósofo francês, Gonzalo é um pré-adolescente que ainda não se contaminou com as disputas de poder e tenta compreender o outro lado da linha que separa os dois Chiles. Essa sede por (re)conhecimento gera dois conflitos no personagem: o amadurecimento e as descobertas comuns de sua idade e também a inundação, o choque de realidade. Nem todos tiveram os mesmos privilégios, essa é a grande constatação.
Apesar do seu tema dramático, Machuca não se torna desagradável. Andrés Wood conseguiu dar leveza a um ambiente violento, onde meninos se tornam homens em virtude do “Estado de Guerra”. É como Rousseau descreve o homem em seu ”estado natural“ (dotado de razão, porém ingênuo).
Tal conflito de realidade retrata o clássico choque de um personagem abastado que entra em contato com a pobreza extrema. Esta dialética é revisitada desde o relato de Sidharta Gautama, Buda, que passa por um decisivo conflito existencial ao testemunhar a miséria além dos muros do seu palácio. A subjetividade inerente à reação do interlocutor rico remete ao questionamento ético da escolha entre atuar em favor da melhoria da realidade geral, ou simplesmente colher os frutos de uma condição priviliegada, mesmo que às custas da pobreza alheia.
Como o “bom selvagem”proposto pelo filósofo francês, Gonzalo é um pré-adolescente que ainda não se contaminou com as disputas de poder e tenta compreender o outro lado da linha que separa os dois Chiles. Essa sede por (re)conhecimento gera dois conflitos no personagem: o amadurecimento e as descobertas comuns de sua idade e também a inundação, o choque de realidade. Nem todos tiveram os mesmos privilégios, essa é a grande constatação.
Apesar do seu tema dramático, Machuca não se torna desagradável. Andrés Wood conseguiu dar leveza a um ambiente violento, onde meninos se tornam homens em virtude do “Estado de Guerra”. É como Rousseau descreve o homem em seu ”estado natural“ (dotado de razão, porém ingênuo).
Tal conflito de realidade retrata o clássico choque de um personagem abastado que entra em contato com a pobreza extrema. Esta dialética é revisitada desde o relato de Sidharta Gautama, Buda, que passa por um decisivo conflito existencial ao testemunhar a miséria além dos muros do seu palácio. A subjetividade inerente à reação do interlocutor rico remete ao questionamento ético da escolha entre atuar em favor da melhoria da realidade geral, ou simplesmente colher os frutos de uma condição priviliegada, mesmo que às custas da pobreza alheia.
