
GUILHERME L. PINA

Stanley Kubrick transformou sua filmografia em um desfile de gêneros. Realizou treze longas-metragens. Como legado, deixou para o cinema poucos títulos, mas de relevância artística e técnica notáveis. isso foi suficiente para colocá-lo como o provável diretor mais eclético da história (também há Steven Spielberg, vá lá, mas a obra desse, mais extensa, trafegou em uma relação de linguagem temática quase sempre muito uniforme).
Há de se levar em conta, entretanto, que a importância de Kubrick para a história do cinema não se traduz em uma coleção de troféus, premiações e reconhecimento emquanto o próprio estava vivo. Mesmo com a reverência quase unânime de crítica e público, seus filmes passaram batidos pelas academias, festivais e júris mundo afora. Isso com raríssimas exceções, como é o caso de “Spartacus” (vencedor do Globo de Ouro de Melhor Filme de Drama), “Barry Lyndon” e “Dr. Fantástico” (que levaram o BAFTA de Melhor Filme).
O Oscar, pouco generoso com a obra de Kubrick, indicou apenas seis diferentes filmes do diretor para prêmios distintos. Ele recebeu apenas uma estatueta, pelos efeitos especiais de “2001: Uma Odisséia no Espaço” (2001: A Space Odissey, 1968). Ademais, a cademia ignorou produções como “O Iluminado” (The Shining, 1980) e “De Olhos Bem Fechados” (Eyes Wide Shut, 1999). Indicado quatro vezes ao Oscar de Melhor Diretor, Kubrick perdeu para dois musicais: “Oliver!” (Oliver!, 1968), de Carol Reed, e “Minha Bela Dama” (My Fair Lady, 1964), de George Cukor.
A descrença dos júris norte-americanos encontrou no eco na Europa. Apenas uma congratulação relevante foi concedida a um filme de Kubrick. “A Morte Passou Por Perto” (Killer’s Kiss, 1955) venceu o prêmio de melhor filme no Festival Internacional de Locarno, na Suíça. Fora essa vitória, os grandes festivais jamais entregaram suas premiações máximas a alguma obra de Stanley Kubrick. Entretanto, em 1997 e já perto de sua morte, ele recebeu um prêmio especial do Festival de Veneza por reconhecimento e relevância de sua carreira no cinema.
A discussão a respeito da importância de prêmios e reconhecimentos da obra de um diretor, no caso de Kubrick, acaba por tornar-se ao longo dos anos obsoleta e até irrelevante. Considerando a inovação tecnológica, o apuro artístico e a perfeição técnica dos filmes desse diretor, não é justo analisar sua filmografia através de estatuetas. A obra de Kubrick, eterna, paira sobre os salões principais dos festivais que a ignoraram à época do lançamento dos filmes. Muito acima de seus jurados, especialistas, críticos e desafetos. Pior pra eles.