segunda-feira, 15 de abril de 2013

Amor Artificial


Nem todo mundo que viu o longa de Steven Spielberg, AI - Inteligência Artificial (Artificial Intelligence, EUA, 2001) sabe que ele foi, na verdade, concebido por Stanley Kubrick. Mas é isso mesmo! No ínicio dos anos 1970, Kubrick começou a desenvolver uma adaptação do conto “Super Toys Last All Summer Long” de Brian Aldiss.


A história de Aldiss, sobre uma era em que a humanidade lida com “máquinas inteligentes” e a solidão de um planeta superpopulado, foi a base para o roteiro que seria mais tarde concebido por Steven Spielberg, em 1999, cujo último projeto "solo" havia sido “Contatos Imediatos de Terceiro Grau”, em 1977. A produção, que havia começado no início dos anos 70 com Kubrick, acabou se estendendo até o começo de 1994, quando o diretor demitiu o próprio autor do conto de sua adaptação e contratou Ian Watson. Foi no tratamento e nas notas de Watson que Spielberg pautou seu roteiro. Kubrick, por fim, acabou desistindo da produção do filme pois, segundo ele, a computação gráfica não era avançada o suficiente para criar o personagem de David e que, caso tentasse usar um ator real, ele começaria com 7 anos e terminaria com idade para tirar carteira de motorista.


Foi logo após o lançamento de "Jurassic Park" que Stanley Kubrick procurou Spielberg para o projeto AI. Ele acreditava que, pela utilização extensa de efeitos especiais em seu último longa, ele seria ideal para dirigir um filme como esse. Em 1995, passou a direção para Spielberg, que por sua vez escolheu dirigir outros projetos e o convenceu a continuar como diretor. Foi só com o falecimento de Kubrick, em março de 1999, que Spielberg decidiu adotar o trabalho.

AI se passa em uma era não tão distante, quando uma grande parte das cidades litôraneas estão submersas por conta do derretimento de calotas polares causado pelo efeito estufa. A humanidade conta com a ajuda de computadores independentes para controlar essa situação, a chamada inteligência artificial. É assim que nasce o pequeno David (Haley Joel Osment), um robô humanoide que, construído a partir da megalomania de seu criador, Allen Hobby (William Hurt), possui a capacidade de amar. David é, então, colocado para testes com a família de Henry (Sam Robards), funcionário da empresa, e Monica Swinton (Frances O’Connor). A família foi escolhida pois o filho deles, Martin, estava em estado vegetativo devido a uma doença.


Quando Martin é acordado do coma e volta para casa, uma rivalidade começa entre os "irmãos" e acaba resultando no abandono de David e de seu Super Toy Teddy (um ursinho que anda e fala). Eles encontram o gigolô Joe ( Jude Law), um robô feito para satisfazer as necessidades sexuais humanas, e começam uma jornada em busca da Fada Azul, que fez de Pinóquio um menino real. A comparação do longa com Pinóquio é algo com o que o próprio Kubrick brincava, se referindo a AI como "conto de fadas".


Bom, nada mais "conto de fadas" do que um menino que, por puro e simples amor, quer ser real. E é basicamente o que se pode esperar do filme. E é o que se espera de Spielberg. O diretor chegou a se defender, dizendo que as partes mais melosas das quais o acusam de colocar no filme estão ali pois Kubrick assim as pensou, e chega a dizer ainda que a parte mais obscura é de sua autoria.


A história se desenvolve de maneira emocionante e comovente enquanto ao mesmo tempo retrata o lado obscuro de uma era não tão longínqua. Porém, o uso excessivo de close-ups fica um pouco massante no ínicio do filme, mas ao longo de A.I. vemos enquadramentos magistrais, de deixar Kubrick orgulhoso. A câmera em lento movimento passeando pelo set e os longos diálogos, marca registrada de Spielberg, não deixam dúvidas de sua influência na obra. Spielberg foi fiel ao tratamento de roteiro proposto por Watson e Kubrick tanto quanto foi a maneira obssessiva de dirigir de Kubrick se recusando a dar o roteiro completo aos atores e a produção, os fazendo assinar um termo de confidencialidade e banindo a imprensa de seu set de filmagem.

Personagens e visões diferentes à parte, acredito que, mesmo tendo se mantido fiel ao roteiro, a produção seria algo totalmente diferente nas mãos de Kubrick. Por fim, se é uma verdadeira obra de Spielberg ou não é impossível concluir. A verdade é que todo mundo ainda chora no final, não é?
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