A carreira de Karin Aïnouz é envolta de grandes sucessos de crítica. Ele é o responsável por dois títulos totalmente emblemáticos do cinema nacional recente: "Madame Satã" e "O Céu de Suely". É difícil ficar impune ao seu cinema. Karin possui uma sensibilidade ímpar ao desenvolver suas histórias e seus personagens. Sem contar em seu talento incrível para extrair atuações viscerais de seus intérpretes. Graças a ele, Lázaro Ramos e Hermila Guedes se tornaram grandes nomes do cinema brasileiro. Agora é a vez de Alessandra Negrini brilhar nas mãos do diretor no excelente Abismo Prateado (Brasil, 2011), uma adaptação livre da canção "Olhos nos Olhos", de Chico Buarque.
A missão não é fácil: Alessandra carrega o filme inteiro nas costas durante uma hora e meia de projeção. Na pele de uma dentista que repentinamente é abandonada pelo marido, a atriz encarna um dos melhores papeis de sua carreira. Alessandra é uma atriz envolvida com a sétima arte e que constantemente sai do seu pedestal de contratada da Globo para se aventurar em personagens mais densos e diversificados. Já foi musa do cinema autoral de Julio Bressane por duas vezes: Encarnando a Rainha do Nilo em "Cleópatra" e atuando ao lado de Selton Mello no maravilhoso "A Erva do Rato". Alessandra não tem medo de sair de sua zona de conforto. E graças ao seu excelente desempenho, Abismo Prateado é um grande filme.
Karin Aïnouz é um cineasta que fala por imagens, sons, sentimentos. Seu cinema é muito mais feeling do que verborrágico. Ele faz poesia com imagens. Mesmo que isso pareça complexo, estamos falando de um profissional que ainda não errou a mão, toda sua carreira é feita de incríveis acertos cinematográficos. Ele, inclusive, esteve por trás do roteiro de outros grandes sucessos como "Cidade Baixa" e "Abril Despedaçado".
No fim das contas, Abismo Prateado é um filme que fala sobre a capacidade de nos reinventarmos diante das diversidades da vida. Um longa que possui grandes semelhanças com o trabalho anterior de Karin Aïnouz, o excelente e belíssimo "Viajo Porque Preciso Volto Porque Te Amo". Mas, dessa vez, o personagem viaja porque precisa... e não volta. Porque não te ama.
