
Dentre tantos
nomes da nova geração do cinema argentino, o do cineasta Pablo Trapero se
destaca quando o tema é problemas sociais. Sua obra, visivelmente
influenciada pelos grandes mestres do Neorrealismo Italiano, assemelha-se com os
filmes eternizados por Vittorio De Sica (“Ladrões de Bicicleta”, “Umberto D.”, “Milagre
em Milão”).
Em Do Outro Lado da Lei (“El Bonarense”, Argentina, 2002), Trapero demonstra essa influencia italiana ao trabalhar com
atores não profissionais, cenários naturais (reais) e uma história que vai além
do personagem. Retrata os problemas e as peculiaridades da sociedade
argentina. Zapa (Jorge Román) é um serralheiro de um povoado da Província de
Buenos Aires. Ao receber um trabalho de seu chefe para abrir um cofre, ele,
dias depois, é injustamente acusado de roubo. Sob a influência de seu tio, Zapa
consegue se livrar da acusação e vai para Grande Buenos Aires onde tenta ganhar
a vida entrando para a Academia de Policia.
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Por meio desse
retrato realista, o diretor argentino nos leva para dentro de uma das instituições
mais questionadas pelos conterrâneos. São as ações cometidas no cotidiano do
personagem que nos introduzem ao habitat em que são forjados os novos “senhores
da lei”. À péssima conservação das delegacias, da capacitação desses policiais,
o instrumento de trabalho. Podemos fazer ainda um paralelo com a realidade
brasileira e entender que ter policias incapacitados de exercer sua própria função não é um
problema puramente nosso. Do Outro Lado
da Lei explica esse efeito dominó.

Trapero não
faz um retrato pessimista dessa Buenos Aires escondida. Seu trabalho é mostrar
as coisas como elas são de fato e não um idealizando como deveriam ser
ou aguçando um negativismo no pior de cada peculiaridade. É uma trama costurada
com linha importada da Itália, mas feita por mãos argentinas. Sem dúvida, Do Outro Lado da Lei é um filme que deve
estar na prateleira de todos os amantes do cinema argentino.