quinta-feira, 11 de abril de 2013

Inocência e erros seriados

Márcio Garcia bem que podia ter se revelado um Ben Affleck. Infelizmente, não foi o caso. Em Angie (“Open Road", 2012, EUA/Brasil) descobrimos um drama mal escrito, construído e articulado. A história não só deixa de empolgar como descarrega furos bizarros. A direção é acomodada demais. Falta talento, vocação, estudo e boa vontade.


O filminho começa com pinceladas artísticas em uma tela branca. A responsável é nossa heroína Angie (Camilla Belle), uma menina brazuca que largou sua rica família em Vitória e viajou aos Estados Unidos carregando nas costas um “terrível” segredo. Logo descobrimos que a garota odeia falar de seu passado e sobre si, até mesmo com as amigas no seu emprego de garçonete. Além disso, ela prefere trocar uma boa cama por uma barraquinha no meio do mato, onde passa a noite se inspirando e produzindo quadros velados. É na floresta que ela se encontra com Chuck (Andy Garcia), um mendigo eremita que se torna seu melhor amigo. Certo dia Angie compreende que está criando mais raízes do que pretendia, larga tudo e volta a viajar. É quando, na estrada, conhece o alegre, disposto e meio bobalhão policial David (Colin Egglesfield). O amor entre os dois torna-se iminente. Para não dizer que eu não falei das flores, temos as brazileirissimas Christiane Torloni e Carol Castro nos curtos papeis de mãe e irmã, respectivamente, da protagonista.


Trata-se de um filme genérico e perdido, de um diretor incompleto que procura por um estilo sem qualquer naturalidade. Mesmo apostando em um clima de mistério e incerteza, a história é fraca, simples e, quando não é previsível, se recria em poucos segundos para vomitar alguma explicação besta. Toda resposta decepciona. O longa ainda consegue menosprezar o espectador ao compor uma estrutura narrativa mastigada e grosseira. O trabalho tenta agradar o sul e o norte do continente americano, mas como fazer isso sem sequer encontrar alguma qualidade ou boa lógica?


Mesmo com alguns enquadramentos certinhos e luzes legais, a regra é o erro. A maioria dos cortes é bruta, a montagem é tosca, as marcações são travadas, as músicas foram muito mal escolhidas e a edição de som também não ajuda. Para colaborar com um texto muito mal escrito, temos a fraquíssima e corrida construção de personagens e conflitos, que não conseguem criar vínculo emocional com o público. Isso tudo sem falar na escolha trivial dos atores com relação a seus personagens, não levando em conta aparência ou trejeitos. Outro erro foi selecionar uma atriz com forte sotaque norte-americano para o papel Angie, que é brasileira, e praticar uma dublagem pouco agradável quando a garota precisa falar português. O melhor do filme está, sem dúvida, na graça involuntária diante de alguns erros bobos e patrocínios expostos de maneira mais do que banal.

Logo no início da trama, a personagem de Camilla Belle afirma que “fazer arte leva tempo”. Não só precisa de tempo, mas também muito talento e dedicação. É... Ficou faltando...

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...