quinta-feira, 4 de abril de 2013

Sobre Meninos e Lobos


Este não é mais um post sobre o filme de Sean Penn e Clint Eastwood, mas sobre o senso critico tão bem atinado de um dos maiores cineastas da história a respeito dos horrores da guerra. Afinal, o que é a guerra se não a própria extensão da política? Foi um conhecido militar prussiano do Séc. XIX, teórico da guerra ainda hoje estudado, Clausewitz, que cunhou a frase: “guerra é a continuação da política por outros meios”. Só que uma política viciada na ambição e cobiça de poder. Este, que por sua vez, causa a cegueira da razão.


Glória Feita de Sangue (“Paths of Glory”, Estados Unidos, 1957) é um filme que possui um forte discurso antimilitarista, se passa numa época em que ataques bem sucedidos eram medidos por quilômetros e que custavam a vida de centenas de milhares. Por conta deste discurso antimilitarista, o projeto chegou a ser censurado e banido em diversos países, inclusive na França, que é onde a história se passa ( e o trabalho não pôde ser visto em 20 anos).


O filme, que tem direção e roteiro de Kubrick, foi baseado no livro homônimo que relata um caso ocorrido durante a Primeira Guerra Mundial no exército francês. Um general ordena um ataque suicida contra os alemães e, na iminente falha do plano, obriga a artilharia a disparar contra seus próprios homens. A medida era uma forma um tanto grosseira de forçar seu batalhão a avançar. Mesmo assim, os soldados recuam e o seus superiores os acusam de covardia. Eis que surge a ideia de fazê-los exemplo para o restante do exército. O Coronel Dax (Kirk Douglas), que participou do ataque, procura defender seus comandados da condenação a morte por covardia diante do inimigo. Em nenhum momento é visto um soldado alemão e a tensão é continua. Não é travado nenhum combate com o inimigo. Contudo, o choque fica por conta dos militares franceses de alto escalão. O grupo não aceita afrontas ao seu orgulho e busca mais prestigio se abrigando no discurso patriótico, mas que nada mais é do que "o refugio dos canalhas", nas palavras de Samuel Johnson, citado pelo próprio Coronel Dax.


É notável o perfeccionismo de Kubrick mesmo no começo de sua carreira. A cena da ultima ceia dos condenados, por exemplo, foi filmada nada menos que 68 vezes. Outro fato interessante é que o próprio Kubrick fez o projeto das trincheiras para que estas fossem adaptadas ao uso das câmeras como ele queria. No entanto, nada disso poderia ter acontecido se não fosse pela ajuda do ator Kirk Douglas, que se encantou pelo roteiro e começou uma empreitada pessoal para que ele fosse filmado. Ele acabou sendo determinante para a realização do longa, mesmo sabendo que não seria um filme de grande sucesso comercial. Ótima direção e atuação fascinante de Douglas e dos dois generais (Adolphe Menjou e George Macready) em um filme com uma mensagem para ser passada, com uma trilha sonora apurada que culmina em um momento fortemente emocionante. Definitivamente um feito que não deve ser deixado para trás.
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