
É muito comum que grandes obras de arte sejam incompreendidas e desprezadas na época de sua realização. En certos níveis, esse foi o caso de Barry Lyndon (EUA/Reino Unido, 1975): uma verdadeira pintura cinematográfica que não agradou muito o público e dividiu a crítica, mas que hoje é considerado um dos maiores filmes de todos os tempos.
O filme se passa no século XVIII e conta a história do jovem Redmond Barry, um irlandês de uma pequena cidade que ele mesmo odeia. Como em (quase) todos os filmes de um jovem inqueto em uma cidade do interior, Redmond é apaixonado por uma bela mulher que se envolve com um homem mais poderoso, apressando sua saída da cidade. Nesse caso, a fuga acontece após um duelo no qual ele pensa ter matado John Quin, um capitão do exército inglês.
Depois de ser assaltado na estrada por onde viajava, Redmond vê uma chance de escapar de sua vida no alistamento às forças armadas, mas acaba sendo enviado para lutar na Guerra dos Sete Anos. Outra vez, decide fugir, e acaba sendo identificado como desertos pelo exército prussiano, cujo comandante o obriga a se alistar em troca de não entregá-lo aos ingleses, que o executariam por traição. Quando a guerra acaba, Redmond continua servindo ao governo prussiano e, durante uma investigação, se alia a um rico trapaceiro e foge com ele para a Inglaterra.
Tudo o que eu contei até agora acontece apenas no primeiro ato do filme, antes da metade. É só no segundo ato, na Inglaterra, que Redmond conhece a duquesa Lady Lyndon e a seduz para subir na vida. Após o casamento, ele adota o nome de Barry Lyndon. Tratando-se de um filme com três horas de duração, paro por aqui meu "resumo da história" para falar um pouco da beleza do trabalho.
Com cores dignas de grandes pintores, a fotografia Barry Lyndon trouxe uma grande revolução (assim como muitos outros produtos de Kubrick). Sem fazer uso de iluminação elétrica, o longa tem cenas inteiras iluminadas somente por candelabros, criando uma impressão de sonho no espectador. Como a luz de velas é fraca demais para imprimir até mesmo nos mais sensíveis dos filmes, foi necessário empregar um equipamento um tanto quanto inusitado: uma lente Carl Zeiss especialmente fabricada para a Missão Apollo, da NASA. Até hoje essa é uma das lentes de maior capacidade já construídas e apenas 10 unidades foram feitas: uma foi mantida pelos próprios fabricantes, seis foram vendidas à NASA e as outras três vendidas a Kubrick para o filme.
Barry Lyndon é sim um filme longo e um pouco chato, especialmente para os padrões blockbuster de hoje em dia, mas é indispensável para qualquer um que tenha paixão pelo universo do cinema.