
Stanley Kubrick começou sua carreira cinematográfica aos 22 anos, quando dirigia curtas-metragens documentais: Day of the Fight(1951), Flying Padre(1951) e The Seafarers(1953). Os três trabalhos formaram seu portfólio inicial para tentar atrair alguns investidores ao seu primeiro longa, "Medo e Desejo" (Fear and Desire, 1953). Apesar de completamente diferentes dos seus projetos posteriores, será que estes filmes curtos e não-ficcionais já refletiam a genealidade de Kubrick?
Day of the Fight (1951) começa com uma breve explicação geral sobre o universo do boxe. Com um narrador atuando de forma muito similar ao de "O Grande Golpe" (The Killing, 1956), o curta passa a focar o auge da carreira do pungilista irlandês-americano Walter Cartier. O documentário segue um dia na vida do boxeador. Seu cotidiano, a preparação para uma grande luta e o confronto em si. O que mais se ressalta é a tensão da espera que sofrem os lutadores. O diretor retrata o pungilista como um trabalhador normal, um olhar incomum. É difícil notar as características estéticas de Kubrick neste seu primeiro curta, mas a narração em off de uma voz conhecida e um plano específico da luta podem nos remeter ao estágio inicial do cineasta.
Flying Padre (1951) narra dois dias na vida do Reverendo Fred Stadtmueller, missionário católico que dirige um pequeno avião para cobrir toda sua paróquia, de seis mil metros quadrados, no Novo México. Esse personagem excêntrico é retratado como um heroi do cotidiano. O padre faz um enterro pela manhã em uma vila, reza a missa da tarde em sua cidade e, cedo no dia seguinte, salva um bebê adoecido em uma fazenda isolada. Coisas normais. O mais interessante nesse curta é ver os primeiros traços estilísticos de Stanley Kubrick. São inúmeros os supercloses dos moradores da região. O narrador manteve seu emprego desde o ultimo curta. O plano final é simplesmente estonteante, é o primeiro com um ponto de fuga central filmado por Kubrick. Flying Padre com certeza já mostra um Kubrick um pouquinho mais maduro desde o seu primeiro trabalho.
The Seafarers (1953), terceiro e ultimo curta de Stanley Kubrick, é um filme propaganda sobre a Seafarers International Union e seus benefícios. O diretor mostra a rotina dos marinheiros que arriscam suas vidas por esta profissão. O curta também é o primeiro trabalho em cores de Kubrick. Apesar de ser sua última aventura com curtas, The Seafarers parece ser o mais distante esteticamente do que conhecemos sobre o diretor. O narrador ganha um tom mais monótono e se torna personagem. O filme leva um ritmo lento e formal. Alguns planos parecem mais comedidos e controlados. O distanciamento é tanto que até para os maiores fãs de Kubrick, The Seafarers pode parecer chato e desinteressante. No final, vale a pena assistir aos três trabalhos, mas apenas pela curiosidade de ver os exercícios de um gênio em formação.