Está finalmente chegando aos cinemas aquele que pode vir a ser considerado um dos melhores filmes brasileiros dos últimos tempos. Corações Sujos (Brasil, 2011), de Vicente Amorim, traz um elenco de estrelas do cinema japonês, incluindo atores que estiveram em "Kill Bill" e "Cartas de Iwo Jima", para contar uma das muitas histórias do início da colonização nipônica no Brasil, na década de 1950.
Como muitos de nós já sabemos, o Brasil recebeu milhares de refugiados japoneses durante os últimos anos da Segunda Guerra Mundial, começando o que viria a ser a maior população de nikkeis do mundo. Esses imigrantes eram controlados de perto pelo governo e de forma bastante rígida, sendo proibida a agrupação de japoneses, o culto à bandeira nacional, ter escolas próprias, o acesso a material impresso em japonês, etc… Por conta disso, e como muitos deles haviam migrado antes do final da Guerra, não era incomum encontrar japoneses que eram absolutamente incapazes de acreditar que o Japão havia perdido a Guerra.
O filme se constrói justamente em torno de uma quase guerra civil no interior de São Paulo, provocada por esse nacionalsmo exacerbado, tendo como ponto de partida um conflito com a polícia local. Parte de uma colônia nikkei se recusa a aceitar a derrota e se agrupa secretamente para eliminar os "corações sujos" que, simplesmente pelo fato de duvidarem da vitória japonesa, eram traidores do Imperador.
O filme tem uma qualidade técnica impecável, um roteiro extremamente bem construído a partir do livro homônimo de Fernando Moraes (autor de "Chatô, o Rei do Brasil"), e uma infinidade de excelentes atuações (com destaque para a pequena Celine Fujumoto). Quase todo falado em japonês, foi traduzido pela mesma intérprete de "Cartas de Iwo Jima", de Clint Eastwood, para usar a mesma linguagem arcaica falada na época em que o filme se passa. Em resumo: uma belíssima obra que deve servir de exemplo para os futuros rumos do Cinema nacional.
