
Alguns anos atrás, assistindo “Arte com Sérgio Britto” (que Deus o tenha), fui apresentado ao trailer de um filme que se passava numa cidadezinha uruguaia. Sinceramente, os poucos minutos que assisti foram o suficientes para me prender na cadeira. O filme era O Banheiro do Papa ("El Baño del Papa", Uruguai, 2007), uma produção franco-uruguaia-brasileira, do diretor e fotógrafo Cesar Charlone ("Cidade de Deus" e "Ensaio sobre a Cegueira") em parceria com o cineasta Enrique Fernandez, ambos uruguaios.
La película, que es embazada en hechos reales, conta a história da visita do Papa João Paulo II, em 1988, à cidade de Melo, interior do Uruguai, próxima à fronteira com o Rio Grande do Sul. Sendo um lugar de baixa atividade econômica, os habitantes (que na maioria vivem de biscates e contrabando) veem na passagem do pontífice uma grande oportunidade de por fim às suas misérias, já que o evento atrai diversos turistas brasileiros. O personagem-guia Beto, decide, então, construir um banheiro (O Banheiro do Papa) e alugá-lo para os visitantes.
Trata-se de uma "tragicomédia" irretocável que aborda um tema recorrente em nossas vdas: sonhos. Uma passagem que merece destaque é a da ideia, concepção e demonstração do banheiro construído por Beto. É comovente vê-lo apresentando o projeto construído para seus amigos e familiares e explicando como enriquecerá com ele. Fica claro que tal façanha nunca se concretizará e é isso que emociona. É como se estivéssemos assistindo um Don Quixote contemporâneo, um homem capaz de sonhar e lutar para alcança-lo, não importa quão louco possa ser. Damos gargalhadas das insanidades de toda a população da cidade, mas, em seguida, colocamos a mão na consciência e notamos o quanto é difícil a realidade representada.
Sem dúvida, O Banheiro do Papa é aquele tipo de filme para ser degustado e apreciado, mas com moderação. O seu excesso pode causar sentimentos de culpa por reclamarmos tanto de nossas vidas. Afinal, foi Sérgio Britto quem indicou. Não poderia ser diferente.