
Apesar de muitos dos meus filmes favoritos serem de baixo
orçamento, não sou totalmente adepto da filosofia de que um bom longa-metragem
não precisa de boa produção. Creio que quanto mais recursos o cineasta tem a
disposição, maiores as chance de "transmitir a mensagem" e alcançar o
sucesso junto ao público. Lola (Filipinas, 2009) resume bem essa linha de pensamento. Filmado com câmeras digitais num
período de dez dias, é genial, mas podia ter brilhado ainda mais se o orçamento
fosse maior. Dirigido brilhantemente por Brillante Mendonza (trocadilho bobo).
O neto de Lola Sepa foi assassinado por um ladrão de
celular. Apesar de devastada por esta súbita e violenta perda, tem que arcar
com todas as despesas do funeral. Pela família ser pobre, a senhora está
disposta a pedir um empréstimo bancário para bancar as despesas e procurar
justiça. Já Lola Puring, avó de Mateo, também sofre com a miséria, e quer tirar
seu neto da cadeia, sendo que este é o principal suspeito de ser o assassino do
neto de Sepa. Quando ambas ficam frente a frente na primeira audiência, é
evidente que cada um vai fazer o que for necessário por seus netos.
O grande destaque é para a escolha das idosas. Ambas muito expressivas, e as próprias limitações
provenientes da idade delas são exploradas de modo brilhante. A dificuldade de
deslocamento, aliado ao ambiente miserável onde vivem, faz a combinação
perfeita para emocionar os espectadores. Outro destaque vai para o roteiro que
abusa da criatividade, sendo bastante inteligente e surpreendente em diversos
momentos.
Foi filmado no mês de junho propositalmente, a estação mais
chuvosa nas Filipinas, sendo essencial para intensificar o drama das duas
idosas. Nessas situações elas são obrigadas a usar barcos improvisados. Passa a
sensação de que Mendonza queria criticar a distribuição de renda do governo
Filipino (bem parecido com nosso país, não?). O curioso é que as personagens
não reclamam desta situação, dando a sensação que para elas é natural, graças a
"normalização" que as circunstâncias obrigam.
Lola é um longa-metragem
que tira "leite de pedra". Ao contrário do que se possa imaginar, ele
não é tedioso, talvez pelo estilo de filmagem ou a ótima edição. Vai totalmente
na contramão do cinema "mainstream", o que pode desagradar aqueles
que não gostam de filmes cults. Sem dúvidas, Mendonza poderia expandir o
público caso o orçamento fosse maior, colocando uma presença maior da trilha
sonora, explorando mais a fotografia, e outros elementos técnicos. Mas se você
procura uma ótima história, definitivamente é para você.