segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Amor de Avó




Apesar de muitos dos meus filmes favoritos serem de baixo orçamento, não sou totalmente adepto da filosofia de que um bom longa-metragem não precisa de boa produção. Creio que quanto mais recursos o cineasta tem a disposição, maiores as chance de "transmitir a mensagem" e alcançar o sucesso junto ao público. Lola (Filipinas, 2009) resume bem essa linha de pensamento. Filmado com câmeras digitais num período de dez dias, é genial, mas podia ter brilhado ainda mais se o orçamento fosse maior. Dirigido brilhantemente por Brillante Mendonza (trocadilho bobo).


O neto de Lola Sepa foi assassinado por um ladrão de celular. Apesar de devastada por esta súbita e violenta perda, tem que arcar com todas as despesas do funeral. Pela família ser pobre, a senhora está disposta a pedir um empréstimo bancário para bancar as despesas e procurar justiça. Já Lola Puring, avó de Mateo, também sofre com a miséria, e quer tirar seu neto da cadeia, sendo que este é o principal suspeito de ser o assassino do neto de Sepa. Quando ambas ficam frente a frente na primeira audiência, é evidente que cada um vai fazer o que for necessário por seus netos.


O grande destaque é para a escolha das idosas. Ambas  muito expressivas, e as próprias limitações provenientes da idade delas são exploradas de modo brilhante. A dificuldade de deslocamento, aliado ao ambiente miserável onde vivem, faz a combinação perfeita para emocionar os espectadores. Outro destaque vai para o roteiro que abusa da criatividade, sendo bastante inteligente e surpreendente em diversos momentos.


Foi filmado no mês de junho propositalmente, a estação mais chuvosa nas Filipinas, sendo essencial para intensificar o drama das duas idosas. Nessas situações elas são obrigadas a usar barcos improvisados. Passa a sensação de que Mendonza queria criticar a distribuição de renda do governo Filipino (bem parecido com nosso país, não?). O curioso é que as personagens não reclamam desta situação, dando a sensação que para elas é natural, graças a "normalização" que as circunstâncias obrigam.


Lola é um longa-metragem que tira "leite de pedra". Ao contrário do que se possa imaginar, ele não é tedioso, talvez pelo estilo de filmagem ou a ótima edição. Vai totalmente na contramão do cinema "mainstream", o que pode desagradar aqueles que não gostam de filmes cults. Sem dúvidas, Mendonza poderia expandir o público caso o orçamento fosse maior, colocando uma presença maior da trilha sonora, explorando mais a fotografia, e outros elementos técnicos. Mas se você procura uma ótima história, definitivamente é para você.

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