domingo, 19 de agosto de 2012

Um Giro Por 360

O esperado longa-metragem 360 estreou na última sexta-feira no Brasil (leia AQUI a crítica). O filme é um projeto de ambições multinacionais que contou com a co-produção da empresa brasileira O2 Filmes e com atores como Juliano Cazarré e Maria Flor. A direção ficou a cargo do responsável por Cidade de Deus, Fernando Meirelles. Pouco antes da estreia, alguns dos representantes tupiniquins contaram um pouco sobre como foi fazer parte dessa Torre de Babel.

Foto: Pedro Henrique Barros | LixeiraDourada
Fernando Meirelles

Diante de vários jornalistas que tinham acabado de ver o longa, Fernando explicou que a peça de Arthur Schnitzler, que completa 100 anos de morte, serviu apenas como um “gatilho” na adaptação para roteiro foi feita por Peter Morgan (Frost/Nixon), nome considerado como de peso para o diretor.

“Quando eu recebi o texto e vi o nome do Morgan, que é sempre muito bom de diálogo e de construir situação, falei ‘Opa! Me interessa ter uma relação próxima com esse cara’. Ele queria fazer um roteiro que tivesse muito a ver com a própria vida. Morgan acredita que o mundo é muito interligado, de forma tênue. Outra cosia que me fez gostar do projeto foi o fato de não ser uma história clássica, em três atos, que você segue o protagonista (...) Existem vários filmes com muitos personagens, mas eu nunca tinha feito e isso me atraiu. É sobre um conflito interno. O cara que tem desejos e pulsões precisando decidir se puxa o freio de mão ou se solta o breque e deixa levar. O que é melhor? A vida é muito curta, como será que se deve levar a vida? É um assunto que me interessa e por isso eu embarquei”.

Mesmo empolgado em trabalhar pela primeira vez em um filme de vários núcleos, o diretor contou que sentiu falta de ter mais tempo para trabalhar cada personagem. Fernando afirmou que, se pudesse começar de novo, não teria problemas em tirar um ou dois nomes do filme para ter espaço de explorar mais algumas tramas. “Uma das personagens que perdeu muito espaço e achei uma pena, mas realmente não tinha tempo, foi a Marianne Jean-Baptiste, que é uma atriz incrível, já ganhou Oscar. A personagem dela era maior. Ela tinha uma namorada... Mas tivemos que dar uma enxugada.”

Fernando não se sentiu pressionado por trabalhar com a supervisão severa do roteirista. “Essa é a história mais pessoal que o Morgan já fez na vida. Quando encontrei com ele, notei logo a paixão que tinha pelo projeto e pensei que esse cara merecia crédito. Além disso, ele é super bem-humorado, tem uma energia boa. Então esse não é meu filme, é nosso. Eu cheguei a propor aos diretores que a gente assinasse “by Peter e Fernando”, mas eles acharam isso pouco usual. Durante a filmagem, quando ele não me procurava, eu procurava ele. Acabou me chamando para fazer dois ou três outros projetos... Tenho certeza de que nós vamos voltar a trabalhar juntos.

A escolha do elenco

Foto: Pedro Henrique Barros | LixeiraDourada
“Cada ator um foi um processo. Já tinha trabalhado com a Maria Flor e com o Juliano no 'Som e Fúria' e, no roteiro do Peter Morgan, tinha uma garota e um fotógrafo brasileiro, não fui eu que coloquei os dois. Eu tinha uma boa relação e lembrei deles logo. Há anos eu penso em trabalhar com o Jamel Debbouze e até tive que adaptar as agendas para contar com ele. Depois precisávamos de nomes fortes para compor o cartaz... Lembrei que o Jude Low, cruzando em festas, tinha falado que se tivesse alguma coisinha era para avisar. Daí nós ligamos e ele logo topou. Do Ben Foster eu tinha assistido dois filmes e... Acho que em três anos ele vai estar no top cinco internacionais".

Para o diretor, trabalhar com Anthony Hopkins foi um dos pontos altos da experiência. "Fora ser o ator que a gente sabe que ele é, está sempre de bem com a vida, só agradece, fala ‘que maravilha, tenho setenta e tantos anos e tem gente que ainda quer trabalhar comigo. Como sou feliz, tenho mais do que mereço!’”. Rachel Weisz recusou, incialemnte, o filme. Fernando confessou ter feito uma “chantagem emocional” para seduzir a atriz. O diretor apontou a capacidade de improviso como um ponto forte da escolha, mas revelou que Rachel costuma ser muito insegura. “Ela sempre acha que não vai dar certo, que não vai conseguir fazer. Dá um pouco de trabalho, mas no bom sentido”. Sobre Jude Law, Fernando afirmou que é incrivelmente tranquilo, que sempre sabe exatamente o que fazer e o taxou de “lorde inglês”. Ele afirmou também que o ator é um “baladeiro”, e costuma ficar até o amanhecer do dia em festas. Ainda assim, consegue se apresentar em estado perfeito na hora certa das gravações.

Repercução

Mesmo com criticas negativas pelos principais jornais dos Estados Unidos (em especial do The Guardian), além de emplacar um público de pequeno, de aproximadamente 15 mil espectadores, Fernando acha melhor esperar para julgar o sucesso de 360. “O filme foi lançado no domingo, em sete salas só. Passados dois dias a 'Folha' já publica ‘Filme Fracassa nos Estados Unidos’. Para sabermos sobre a repercussão temos que esperar pelo menos três finais de semana”. No Brasil, a expectativa é de fazer 300 mil espectadores.

Fernando terminou revelando que já recebeu algumas propostas para dirigir blockbusters mas nunca topou e nem aceitaria por enquanto. Segundo ele, a ideia de trabalhar em estúdios não atrai nem um pouco e o roteiro teria que ser “arrebatador”.

Maria Flor

Foto: Pedro Henrique Barros | LixeiraDourada
Maria Flor esteve descontraída durante a entrevista, porém foi bem menos acionada do que o diretor do filme. Segundo a atriz, Fernando Meirelles propôs um encontro para que os atores se conhecessem e fizessem uma primeira leitura do texto. Porém, chamou a atenção o fato de Ben Foster não querer participar. Ele acreditava que, já que os seus personagens não se conheciam, poderiam aproveitar isso. “No começo eu fiquei surpresa dele não querer nem ler o texto, mas depois em embarquei na onda e acho que foi uma ótima proposta. A cena tem um nervosismo e uma eletricidade de momento porque, o que aconteceu foi que a gente só se falou e se olhou no ‘ação’, no set, como personagem. Foi muito intenso.”

A brasileira aproveitou ainda para contar um pouco sobre sua personagem. “A Laura é uma jovem mulher se encontrando na vida. Descobrindo seu caminho profissional, suas relações amorosas. E acho que ela não é uma menina de muita personalidade. Até aquele momento da vida ela seguiu muito o namorado. A decisão de ir morar em Londres, inclusive, foi dele. Quando ela descobre a traição, rompe com o relacionamento, com a cidade, e nota que precisa ir para outro caminho. Depois disso ela acaba tendo dois encontros que foram de grande crescimento, com os personagens do Hopkins e do Ben Foster”.

Cinco Metros e Cinco Minutos

Antes mesmo da entrevista ter início, o filho de Fernando, Caco Meirelles, tomou a palavra e apresentou aos jornalistas dois curtas-metragens dirigidos por ele mesmo enquanto o pai cuidava do 360. Segundo Caco, nos momentos de folga da gravação ele se via tentado a produzir, cercado por atores e uma bela equipe que estava “de bobeira”. Os dois projetos envolvem personagens do longa em situações corriqueiras, em um momento anterior ao representado em 360. O complemento ficou interessante. Se você gostou do novo trabalho de Fernando Meirelles, vale a pena conferir o proposto pelo filho.
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