domingo, 12 de agosto de 2012

O Retrato de um Mito


É natural que, quanto mais nacionalista for um povo, mais idealizados sejam seus heróis. Estando os uruguaios entre os mais nacionalistas da América Latina, percebemos uma relação mais "calorosa" entre esse povo e seus "libertadores", em especial com o general José Artigas (1764-1850), cuja imagem é bastante mitificada, apesar de sua história ter sido praticamente esquecida durante muitos anos. O filme Artigas - La Redota (Uruguai/Espanha/Brasil/Paraguai, 2011), de Cesar Charlone, costura duas tramas numa tentativa (não tão bem-sucedida) de contar a história desse herói de uma forma desmistificada.



O ponto de partida da trama é a encomenda do então presidente uruguaio, em 1884 (34 anos após a morte de Artigas), ao famoso pintor Juan Manuel Blanes, de um retrato do herói. Sem ter nenhum outro registro em que se basear, o pintor busca inspiração nos escritos sobre o "pai da nação uruguaia". Essa busca o leva em uma viagem pela trajetória dele, o que resulta em uma visão extremamente humanizada e realista de um personagem já bastante idealizado, fazendo com que sua pintura inicial seja rejeitada pelo presidente. O novo resultado, no entanto, se tornou uma das imagens mais reconhecidas e admiradas pelo povo uruguaio, cujas réplicas enfeitam escritórios do governo em todo o mundo.


O filme tem uma clara valorização estética e a fotografia impressiona a cada cena, o que já era de se esperar, considerando-se que Charlone é um dos diretores de fotografia mais respeitados do mundo, tendo trabalhado em "Cidade de Deus" e "Ensaio Sobre A Cegueira". No que diz respeito à narrativa, no entanto, deixa muito a desejar. A estrutura "costurada" provoca uma certa confusão entre alguns momentos históricos e, apesar do filme se apresentar com uma proposta não-idealizada, é impossível para um uruguaio se desprender dos mitos que lhe foram ensinados desde o berço.

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...