Quando a sinopse de um filme diz simplesmente que ele é um documentário sobre a avó dos realizadores, não é muito fácil saber o que esperar dele. A princípio, soa até um pouco egoísta e injustificado. Mas se damos uma chance ao filme e resolvemos conferir o que essa vovó tem de especial, podemos nos deparar com uma belíssima obra. É este o caso de Leontina (Chile, 2010), que está na mostra competitiva de longa-metragens estrangeiros do 40º Festival de Cinema de Gramado.
O documentário foi filmado ao longo de dois anos e registra os momentos mas intímos de uma senhora de 81 ano que vive praticamente isolada de sua família. Extremamente profundo e honesto, nos mostra, principalmente, as decepções de uma vida bela, porém sofrida. Através de uma narrativa melancólica, costurada pelos depoimentos da personagem-título e por reflexões do diretor apresentados sob a forma de legendas, descobrimos o que parece ser tudo sobre a vida dela.
O filme nos faz partilhar seus desejos e arrependimentos de uma forma tão melancólica quanto a solidão da velhice em si. A bela trilha sonora e a montagem excepcional e, de certa forma, não linear, nos leva num passeio poético pelas memórias de dona Leontina e acaba por nos tornar um pouco netos dela também. Nem mesmo toda a lentidão do filme estraga a experiência cinematográfica que ele nos proporciona.
