quarta-feira, 6 de outubro de 2010

FESTIVAL DO RIO: Gran Hermano


Vigiar e Punir, mais do que o título que consagrou o conceito de coerção no filósofo Michael Foucault, marcou uma forma de enxergar as construções sociais modernas submetidas ao controle. Em O Olhar Invisível (La Mirada Invisible, Argentina, 2010), filme baseado no livro “Ciencias Morales” do escritor Martín Kolan, o diretor Diego Lerman trabalha um roteiro que desdobra o estado constante de tensão em estrutura escolar da Argentina durante o fim da ditadura militar.

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Maria Teresa (Julieta Zylberberg), 23 anos, é inspetora de um colégio tradicional em Buenos Aires que preza pela organização através da vigilância constante. Nela, o supervisor chefe Sr. Biasutto (Osmar Nuñez) vê sua melhor ferramenta para a supervisão dos alunos e a manutenção do padrão rigoroso de ensino e comportamento. Desde as feições da personagem e de todo o elenco, até o vestuário e a forma de se comunicar, o longa consegue mergulhar na verossimilhança sem forçar a inteligência do espectador.

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Completamente imersa na hostilidade da repressão do sistema, a protagonista é contraditoriamente uma personagem frágil e juvenil, dividida entre seu lugar de representação e sua verdadeira essência. A trama articula essas duas realidades em um drama muito bem elaborado que mistura os conflitos pessoais de Maria com a posição que ocupa como inspetora.

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Apesar de não ser um filme com qualidades técnicas que saltem aos olhos, observadores atentos encontrarão preciosos planos nos quais a fotografia ganha destaque. No mais, a produção é, em seu conjunto, um trabalho de narrativa extremamente feliz desde a proposta até o roteiro em si. Contribuindo para mais uma salva de palmas para o cinema dos hermanos, “O Olhar Invisível” é mais uma pérola a ser conferida.

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