Sustentado por boas atuações e traços de suspense, O Sol do Meio Dia (2009) nos faz encarar um atípico drama nortenho. O filme se difere do óbvio ao focar nos conflitos dos próprios personagens, sem deixar abertura muito grande para algum tipo de ‘problema maior’. Chega a ser estranho assistir um drama no Pará onde a pobreza se limita ao plano de fundo, mas a ideia funciona. O modelo deixa até mesmo a cultura dessa parte do país mais evidente na película.
O barqueiro Matuim (Chico Diaz) está sempre tentando se dar bem. Seu jeito de conversa mole e bastante molejo revela, entretanto, um fracassado completo. Seria o típico malandro se não fosse uma negação ao posto. Logo no início do filme, o navegador se vê obrigado a fugir para não herdar as dívidas deixadas por seu recém falecido pai. Nesta tentativa, Matuim cruza o caminho de Artur (Luiz Carlos Vasconcelos), um homem calado e muito misterioso que quer viajar à Belém para tentar esquecer seu passado conturbado. A relação dos dois se fortalece na medida em que convivem, porém tanto contato também faz aflorar suas diferenças.
Não há como deixar de relacionar a escolha dos protagonistas da trama com o Festival do Rio de 2009, onde Luiz Carlos Vasconcelos e Chico Diaz dividiram o prêmio de melhor ator. A ideia deu certo. Ambos conseguem levar com precisão seus complicados roteiros. O único problema é que talvez nem mesmo os atores estivessem cientes dos mistérios guardados pelos personagens. Isso pode ter deixado alguns momentos da história meio tortos. Nada comprometedor.
Ainda assim, o ‘não dito’ é um dos grandes atrativos do filme. A forma com que os conflitos internos, segredos e sentimentos reprimidos conseguem ser atuantes mesmo não estando explícitos dá um gosto especial. A produção foge bastante de clichês e seu ritmo inconstante não chega a ser um erro. A ação do filme é muito pouco convincente, o que também não chega a ser um problema tão grave já que não é a coisa mais importante para o longa.
Os efeitos sonoros são trabalhados de forma bastante peculiar, onde a ambientação dos pássaros e vento nas árvores muitas vezes ganha força sobre as ações principais da cena. Em um roteiro simples e curto, a diretora tenta quebrar parte do mistério (sobretudo do personagem Artur) ao dar pequenas pistas durante do filme. A solução, ainda que inteligente, é formada em um tom poético que por muito pouco não entra em choque com a verossimilhança da trama.
