sábado, 16 de outubro de 2010

FESTIVAL DO RIO: Indivisíveis


De forma resumida: um número primo é um número inteiro que é divisível somente por 1 e por ele próprio. São números solitários em sua essência, como algumas pessoas. É esse caminho que percorre o romance italiano A Solidão dos Números Primos ("La Solitudine dei Numeri Primi", Itália/Alemanha/França, 2010), dirigido por Saverio Constanzo e adaptado do livro homônimo de Paolo Giordano.


O filme conta a história de Alice e Mattia, dois forasteiros de seu próprio mundo. Alice, quando jovem, era um prodígio do esqui, que vivia sob a pressão dos "incentivos" do pai e sem a devida proteção da mãe submissa. Depois de ser obrigada pelo pai a sair para esquiar em uma pista difícil num dia nublado, sofreu um grave acidente que a deixou manca pelo resto da vida, fazendo com que ela passasse a ser rejeitada pelos colegas.


Mattia é uma espécie de gênio perturbado. Quando criança, já convivia com a responsabilidade de cuidar em tempo integral da irmã, Michela, doente mental. Todas as atenções dos pais iam para as necessidades da menina e, por isso, ele acabava não tendo amigos nem lazer. Até que ela desapareceu quando estava sob seus cuidados, despertando nele tendências autodestrutivas.


Alice e Mattia se encontraram por acaso nos corredores da escola, e se sentiram imediatamente atraídos um pelo outro. O desenrolar das histórias dos dois, entre idas e vindas, aproximações e separações, é contado com uma beleza muito sutil, contrariando (mais uma vez) o estereótipo do italiano barulhento e colorido. A fotografia lavada com foco muito bem trabalhado, aliada à edição clássica, cria um filme típico, mas que explora a linguagem de uma forma pouco vista.


A estrutura narrativa também é muito bem construída com sua não-linearidade cronológica, pecando apenas em alguns diálogos mais vazios, apesar de acertar em alguns momentos com ausência de diálogos. O silêncio narra muito bem as vidas vazias. A direção de arte, apesar de ser muito bem pensada, também tem alguns (poucos) momentos falhos, que poderiam ter sido corrigidos por outros elementos técnicos, como a trilha sonora e a direção em si, mas nem sempre o foram. A Solidão dos Números Primos é um filme belo, repleto de vazios que carregam muitos significados e que escapou bem de seus próprios defeitos. É, acima de tudo, um filme solitário.

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