terça-feira, 5 de outubro de 2010

FESTIVAL DO RIO: Necessidades Mascaradas


O filme se propõe a documentar um assunto muito delicado de uma forma bastante ousada: tenta mostrar de uma perspectiva positiva a vida de mulheres que foram infectadas pelo vírus HIV por seus maridos. É uma idéia original e interessante, mas o documentário não consegue transmitir esse clima. Acaba sendo um filme pra baixo, trágico e melancólico.


Na maioria dos casos a tragédia já começa na transmissão do vírus: maridos infiéis que foram infectados por outras mulheres ou eram viciados em drogas injetáveis. Todos repassaram o vírus para suas esposas sem saber. Nenhum deles continua vivo, as entrevistadas são todas viúvas. A partir daí, já fica evidente o clima do filme.


O documentário mostra o cotidiano dessas mulheres hoje em dia, já aidéticas há mais ou menos dez anos. Todas continuam sua vida normal, vão ao trabalho, namoram outros homens, cuidam da casa e dos filhos. Tudo o que se espera delas, afinal, continuam tendo que sustentar suas vidas. O equívoco do filme está em achar que essas atividades são um exemplo de superação e não o rumo natural das coisas.


Cazuza, numa entrevista dada à Marília Gabriela, falou que “a AIDS só mata quem quer morrer”. Essa metáfora ilustra a moral que o filme tenta passar, mas não consegue. Ele tenta mostrar como a vida depois da doença continua a mesma de antes, o que é impossível. A rotina dessas mulheres não é fruto da força interior delas, mas da necessidade financeira e moral de cada uma.


A felicidade é confundida com a conformidade. Não assistimos a um filme sobre superação, mas sim sobre desespero e força. Não decepciona, mas também não acrescenta nada de novo. Poderia explorar com mais profundidade o interior das mulheres documentadas. É um filme que não alcançou seu objetivo.

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