sexta-feira, 1 de outubro de 2010

FESTIVAL DO RIO: Projetando Sonhos


Por mais surreal que seja, um filme sempre acaba retratando alguns aspectos culturais do país produtor. Partindo dessa premissa, acho que os húngaros devem ser um povo realmente muito estranho. Com uma ambientação fantástica e ilusória, Biblioteca Pascal ("Bibliotheque Pascal", Hungria/Romênia/Alemanha/Reino Unido, 2010) usa alguns disfarces para mostrar sérios problemas sociais que atingem o leste europeu.


Mona Lisa é uma jovem húngara de origem romena que, depois de algumas decepções, sai caminhando pela vida. Um dia, chega a uma praia e, enquanto curte o sol deitada, o bandido Viorel emerge da areia, ao seu lado, a rouba e sequestra. O homem a leva para sua casa, onde ela percebe que ele projeta seus sonhos no mundo real enquanto dorme. Fascinada, acaba se envolvendo com ele, que é preso em seguida. Grávida, volta à sua cidade natal e cria a filha através de trabalhos temporários e apresentações em parques de diversão.


É num desses parques que ela reecontra o pai, que a convence a acompanhá-lo à Alemanha para um tratamento médico. Ela, então, deixa a filha com a tia, Rodica, e parte com o pai. Ao chegar, percebe que foi enganada pelo próprio progenitor, e é encarceirada por traficantes de pessoas, que a levam clandestinamente para a Inglaterra, onde é vendida em um feirão de escravos para o excêntrico Pascal. Ex-artista de rua, ele havia enriquecido depois de criar um clube privê extremamente restrito e elitista, a Biblioteca Pascal do título, onde todas as prostitutas e gigolôs eram obrigados a encarnar um personagem literário: Mona começa como Joana d'Arc, sendo"promovida"a Desdêmona após a morte desta.


O filme é, na realidade, um relato em flashback da mulher a um oficial do juizado de menores, já de volta a seu país, depois que Rodica é presa e a pequena Viorica é colocada em custódia do Estado. A tia foi detida em flagrante explorando a força de trabalho da menina e de outras crianças que cuidava.


Com uma direção de arte impressionante, roteiro absurdo mas envolvente e excelentes trabalhos de direção, fotografia, edição e trilha sonora, o filme tem poucos aspectos negativos, que se tornam ainda menos relevantes ao longo do tempo, e se considerando o conjunto da obra.

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