quinta-feira, 30 de setembro de 2010

FESTIVAL DO RIO: Ao Sumo da Inércia Lacunar



Tome cuidado! Ao adentrar as portas de uma cabine de cinema para assistir à mais nova produção de Delfina Castagnino, O Que Mais Quero (Lo Que Mas Quiero, 2010), esteja ciente de que estará ultrapassando um portal para uma dimensão totalmente nova. Um mundo onde as coisas são sem graça, realmente levam tempo para acontecer e quase nunca fazem muito sentido. Não adianta procurar. Nesse estranho ambiente, você não vai encontrar nenhum filme.

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É difícil acreditar, mas existe uma tentativa de sinopse da coisa em questão: Com a morte do pai de Pilar, María acaba finalmente viajando de Buenos Aires para Bariloche afim de consolar a amiga, com a qual mantinha um relacionamento à distancia. A partir desse contado, as duas firmam ainda mais sua amizade enquanto pensam no futuro e nas inseguranças da vida. Bem, talvez aqui eu já tenha contado a história inteira. Me desculpem, mas é impossível falar menos ou mais que isso para resumir a produção.

loqmas

Não existe muito para comentar sobre essa façanha de Castagnino e há uma razão forte para isso: Quase nada acontece. Cada cena dura em média 20min, com pouquíssimas falas que, quando existem, se repetem. Os atores ficam lá, perdidos. Não há enquadramento, roteiro, nem trilha sonora. São apenas cortes para novos vazios e mais vazios. E, claro, são pouquíssimos os cortes, já que existem pouquíssimas cenas, que duram longos e intermináveis minutos.

lo que mas quiero

O produto final é como uma montagem de vídeos caseiros aleatórios, com câmeras sempre estáticas. Talvez a vontade do diretor tenha sido a de trazer certa naturalidade à obra, criando uma intimidade com o tempo real das coisas. Ok, uma boa ideia. Mas ele extrapola. Com ritmo tão contagiante quanto o de uma tarde de cochilos na rede, o longa faz parecer que a vida tem mais momentos de indecisão, calma e pouco assunto do que na realidade. De qualquer forma, a ideia muito fica longe de funcionar.

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Alguns momentos podem até chegar a ser divertidinhos, mas são raríssimos e não causam risos por seu mérito. A graça do longa parte do absurdo que é o próprio. Vai completamente na contra-mão do cinema argentino. Fica difícil acreditar que se está diante de uma coisa séria. Ainda assim, a produção é altamente recomendável para aqueles que precisam de um empurrãozinho para pegar no sono.

Este "filme" foi poupado de nota por ter sido, anteriormente,
poupado de ser um filme.
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