Você já imaginou se em algum momento durante sua existência precisasse escolher uma única memória para a eternidade? Que lembrança você escolheria? Essa é a proposta do filme After Life (Japão, 1998) de Hirokazu Kore-eda, o mesmo do conceituado “Ninguém Pode Saber”.
A história se passa em algum lugar entre o paraíso e o planeta Terra. As pessoas recém-mortas vão para uma espécie de instituição social, para serem entrevistadas, e são esclarecidas de que só podem carregar uma lembrança para a eternidade. Essas pessoas terão três dias terrestres para escolher uma memória, que será reconstruída em uma espécie de filme.
Hirokazu faz com que a trama tenha toda a estrutura de um filme documentário. Os atores ficam de frente para a câmera e começam a dar depoimentos sobre suas vidas. Desde o jovem de vinte anos, rebelde, que morreu num acidente de moto, até uma senhora com mais de oitenta, todos fazem o espectador refletir sobre convicções e estilo de vida. Destaca-se um homem que morreu aos cinquenta anos e diz: “Não tenho nenhuma memória para guardar, minha vida sempre foi rotineira, do trabalho para a casa, e da casa para o trabalho. Mesmo que eu vivesse trinta anos mais, seria assim. Talvez estivesse fazendo bem para os outros, mas não estava a mim mesmo”.
Para muitos depoimentos, Kore-Eda usou pessoas comuns, e não atores, que eram obrigados a improvisar para a câmera, sem roteiro. O objetivo era a espontaneidade, imprimindo ainda mais o estilo documentarista. A originalidade da história impressiona, e a forma com que o filme é conduzido demonstra a genialidade de Hirokazu.
Contudo, esta obra cinematográfica não tem pretensão de ser um “blockbuster”, e para muitos pode ser um daqueles filmes que dá sono. Os depoimentos são falados de forma linear, em tom de voz baixo, sem acompanhamento musical, e a edição não é “frenética”. After Life cumpre aquilo que se propõe: um “documentário pós-vida” que faz o espectador pensar sobre si mesmo, e isso faz com louvor.
