
SAULO BASTOS

O cinema artístico atual costuma investir em personagens apáticos, com conflitos e ações minimalistas, e o filme A Mulher Sem Piano segue essa linha contemporânea do início ao fim. A protagonista faz questão de não interferir no mundo – se a recepcionista do hotel esta cochilando, ela mesma vai para o outro lado do balcão e pega a chave do próprio quarto, por exemplo. E o ambiente da narrativa também não provoca mudanças em seu comportamento – como notícias de guerra e jovens violentos nas ruas.
Trata-se de um filme de ritmo lento, porém a olhos atentos, as expressões comedidas, a insatisfação implícita e o tédio vão se alastrando pela tela, e o entendimento daquelas relações com o indivíduo atual vai formando associações na cabeça da plateia. O único espaço para intensas emoções é a trilha, ao piano.
O filme é o segundo longa-metragem do diretor espanhol Javier Rebollo, premiado no Festival de San Sebastián, que fez um trabalho simples e competente. A protagonista está muito bem como uma personagem sem nenhum tipo de sentimentos profundos, ou seja, fez muito com muito pouco. Porém falta ao filme o brilhantismo de outras narrativas similares, pois apesar da apatia, é possível ser denso com esses personagens que pouco fazem.
