quinta-feira, 30 de setembro de 2010

FESTIVAL DO RIO:O Tempo e O Amor



O cinema brasileiro está, enfim, encontrando o tom. Como Esquecer (Brasil, 2010), o segundo longa-metragem da cineasta Malu di Martino, é prova substancial de que a união entre profundidade artística e valor comercial pode ser reproduzida em escala por aqui. A lógica do cinema de temática polêmica, característica quase intrínseca do cinema nacional, mantém-se; mas, com uma dinâmica sensível e equilibrada, o filme torna-se uma bela peça desse novo modo brasileiro de contar histórias.


Como Esquecer é a história de Júlia, uma professora universitária que, após perder o grande amor de sua vida, debulha-se numa depressão amorosa profunda. Desesperada e com problemas financeiros, Júlia muda-se para uma casa na Pedra de Guaratiba com dois de seus melhores amigos: Lisa (Natália Lage) e Hugo (em atuação magistral de Murilo Rosa). O novo mundo de Júlia é então invadido pela presença de Helena (Arieta Corrêa), prima distante de Lisa que em visita ao Brasil hospeda-se na casa dos amigos. Júlia, atraída por Helena, envolve-se numa confusão de sentimentos que divide seu coração entre a dor da perda de sua antiga companheira e a novidade que é a descoberta de um novo amor.


O primor do roteiro é, sem dúvidas, o grande trunfo desse pequeno grande filme que, timidamente, abre espaço para uma nova perspectiva de cinema industrial no Brasil. Os personagens, extremamente bem desenvolvidos e multifacetados, trabalham dentro de uma estrutura dramatúrgica que, muitíssimo bem desenhada, proporciona fluidez e profundidade narrativa. A direção, segura e psicológica nos momentos certos, traz o espectador para dentro da trama – estamos, portanto, ali – imersos naquele cotidiano; compadecidos do sofrimento de Júlia.


Relacionamentos são, sem necessidade de estatística, uma das abordagens mais trabalhadas no cinema ao longo dos tempos. Falar sobre o amor – forma cabal e primária do sentimento humano – é uma necessidade artística do ser humano que se arrisca a expor algo mais íntimo. A dinâmica de um relacionamento homossexual, pretensão de Como Esquecer, apenas prova que o amor, tal qual custamos a acreditar, não possui barreiras. E, obrigações conceituais à parte, o filme mostra maturidade para conduzir, sem preconceitos e estereótipos, uma história de amor tão simples e – ao mesmo tempo profunda – como qualquer outra.

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