
O cinema latino continua caminhando a passos largos. Neste Festival do Rio, principalmente, as produções estão chegando com um nível muito bom e com grande aceitação da imprensa. Para provar, o boliviano Zona Sur (Bolívia, 2009) carrega sua bagagem de festivais até a Premier Latina para causar um pouco de “atrito” no audiovisual: qual o limite da inovação da linguagem cinematográfica? Apesar do estranhamento inicial, aqueles que curtem um ritmo diferente de filme e a marca clara do diretor na película, não se decepcionarão com esta última obra de Juan Carlos Valdivia.
Sem dúvida, o que Zona Sur transmite não é muito. Como narrativa, permanece sem unidade de ação durante seus 108 minutos e ressalta situações cotidianas eticamente questionáveis. A história se fixa em uma família classe média alta que vive em uma bolha de preocupações banais. Dialogando com isso, a plasticidade do conjunto estético salta sutil, porém constantemente, aos olhos do público: uma casa impecável com objetos bonitos compondo as cenas, predominância do branco, jogo de reflexos com espelhos e um jardim monumental. Assim, a preocupação com a beleza e a aparência é transportada do argumento para imagem de uma forma muito bem trabalhada.
Carola (Ninón Del Castillo), a mãe futil e decadente, é o retrato de uma classe alienada e moralmente frágil. Nela, é possível encontrar um estereótipo social que reúne a inconsequencia e a dificuldade de lidar com valores que ultrapassam o núcleo familiar. Permissiva, quando passa a mão na cabeça do filho vagabundo, e cheia de preconceitos ao lidar com a filha e sua sexualidade, ainda sim passa a imagem de boa mãe preocupada e protetora. Por outro lado, o filme escapa dessa desordem glamourizada com o personagem Andrés (Nicolás Fernandez), uma criança cujo amigo imaginário é o cineasta Steven Spielberg. É partir desse olhar infantil que o toque emocional e o vínculo com o espectador é criado.
Valdivia saúda o público com uma construção muito interessante. Os olhos parecem contemplar uma série de planos-sequencia gravados circularmente. Em maiores detalhes, a câmera passeia, girando pelos sets, ao mesmo tempo em que os personagens se movem naturalmente para dar continuidade ao plano. As imagens ascendentes, que retratam a criança no telhado, a casa e o jardim, também terminam pro imprimir esse estilo definido de filmagem. É inocente chamar a proposta de inovadora, porém, é tão interessante ver sobressair nas telas o jogo com criação de um estilo que é possível parar para pensar: vale à pena.
