
Já se tornou clichê comentar a excelência do cinema argentino. Nossos “hermanos” vêm provando (vide o exemplo do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro para O Segredo dos Seus Olhos, 2009) que o lado de lá da fronteira é capaz de produzir cinema de conteúdo com apelo comercial. Dois Irmãos (Dos Hermanos, FRA/ARG/URU, 2010), o mais novo filme de Daniel Burman (responsável pelo ótimo e premiado O Abraço Partido, 2004), é uma síntese do modo argentino de se fazer cinema: roteiro magistral, produção bem cuidada e o principal – um espelho perfeito de seu povo e de seus costumes.
Marcos e Susana são um, pois, como Burman – entusiasta das relações familiares (também abordou o tema familiar em Ninho Vazio, 2008 e As Leis de Família, 2006) – analisa em sua filmografia, nada tem mais valor do que o afeto e o valor da família em seu núcleo. O filme é um apanhado das nuances que envolvem o relacionamento de irmãos e, com uma sutileza ímpar, aborda a incomunicabilidade que, com o passar dos anos, torna-se um fardo e um arrependimento quase irreversíveis nas vidas dos personagens.
Como de praxe no cinema portenho, o filme sobra na parte técnica. A trilha sonora, um dos principais destaques é, sem dúvidas, uma das melhores do ano até aqui, além da direção de atores equilibrada e teatral (a cena final é cativante!). Dois Irmãos é a prova de que o cinema precisa, antes de tudo, de boas histórias. Que pese, obviamente, a importância de um orçamento generoso e uma técnica apurada na produção de um filme, mas, sobretudo, fica a impressão de que a essência (perdida?) está nas coisas interessantes que temos pra contar.
