Como fazer com que um filme essencialmente chato, produzido em 2006 mas com cara de anos 70, de ritmo lento e atuações truncadas se torne fascinante? Baseado em doses de extrema ironia e humor bruto, o diretor finlandês, Aki Kaurismäki, encontrou a resposta. Luzes na Escuridão (Laitakaupungin Valot), é uma boa forma de ilustrar essa ideia.
O que, em um primeiro momento, pode parecer um lixo de atuação é, na verdade, a formação de um personagem bizarramente irônico. Koistinen (Janne Hyytiäinen) é um homem completamente solitário e de emoções reprimidas. Sua casa, que consegue ser ao mesmo tempo vazia e bastante bagunçada, reflete isso. Sua falta de amizades e de interação social também. O mesmo para seu mau jeito em lidar com qualquer tipo de situação. Até seu trabalho, segurança noturno, reforça a ideia. Estamos diante de um personagem extremo. Não consegue nada, não é bom em nada, não tem moral nenhuma e está completamente acostumado a viver assim.
Koistinen se satisfaz sonhando com algum futuro. Ele trabalha, bebe e quase sempre termina a noite em um trailer de cachorros-quentes. A vendedora, interpretada por Maria Heiskanen, talvez seja o que o jovem tenha de mais próximo a uma amizade. Ainda assim, trocam no máximo duas frases curtas por noite. A situação só passa a mudar quando a bela e misteriosa Mirja (Maria Järvenhelmi) invade a vida do segurança. O casal parecia perfeito. Ambos frios, calados, estranhos... Apesar de não ter a mínima ideia de como demonstrar emoções, Koistinen fica claramente apaixonado e feliz (talvez como nunca e até por isso não saiba como reagir). Porém, Mirja tem segundas intenções bastante perigosas com o relacionamento.
Sim. Neste filme o nosso herói é um tremendo de um perdedor. E o que mais afeta o público é a sua passividade diante de tudo. Não espere uma redenção, uma volta por cima. Esse filme, como de costume ao diretor Aki Kaurismäki, é feito para incomodar. A ideia é sempre mostrar o outro lado. Uma humanidade mais sombria, uma realidade que normalmente é abafada.
Com planos simples, mas muito bem feitos, uma fotografia de penumbras e clima melancólico, Luzes na Escuridão abre mão de uma trama otimista e com um final bem definido para entendermos melhor a própria vida. Um filme que não é feito para contar uma história, mas para fazer sentir. Entramos em contato direto com o vazio, o que acaba sempre deixando tudo mais claro.
