
MARIANA TIEFENSEE

Quando um filme tem muitos clichês, closes cafonas, sequências estranhas, diálogos truncados e um vasto apelo sexual e melodramático, se espera que ele seja um tremendo fracasso, ou, pelo menos, realmente brega. O Aniversário de David (Il Compleanno, Itália, 2010) apesar de se enquadrar em todos os quesitos citados anteriormente, não tem esse resultado. O diretor e também co-roteirista do filme, Marco Filibeti, utilizou todos artíficios possíveis para fazer um filme ter sucesso mas que sempre acabam o tornando ordinário, e os transformou em uma obra-prima vanguardista.
O filme começa querendo ser leve, solto, mas sempre te deixando com aquela sensação de “pulga atrás da orelha”. Dois casais de amigos decidem passar as férias em uma casa de praia na Itália, Matteo (Massimo Poggio) um psicanalista de 40 anos tem um casamento bem sucedido com Francesca (Maria de Medeiros), já a relação de Shary (Michela Cescon) e Diego (Alessandro Gassman) é um pouco diferente.
David (Thyago Alves, brasileiro), filho do segundo casal, mora nos EUA e não vai à Itália há 5 anos, mas naquele verão ele decide encontrar seus pais na casa de praia para seu aniversário. É aquela velha história de “como esse menino cresceu!”. Quando Matteo reencontra o filho do amigo, acaba sentindo algo que nunca imaginaria. Adolescente de 18 anos, modelo e sabe o poder da sua sexualidade, não deixando de usá-lo sempre que pode, inclusive com Matteo.
No desenrolar do enredo, vão se intercalando situações tão fora da realidade que chegam a incitar uma vergonha alheia, com uma alta tensão em torno da obsessão descarada de Matteo por David. As cenas mais eróticas são extremamente bem montadas, com iluminação e fotografia primorosas. Os diálogos, que não são o ponto-alto do filme, têm um pico de grandeza quando, quase no fim do filme, Francesca e Matteo têm uma conversa extremamente intensa, mascarada como uma discussão sobre a reforma de sua casa.
Um filme que te suga para dentro de seu universo estranhamente mundano e, ao mesmo tempo em que parece descaradamente sexual, é puritano, tratando a relação do adolescente com o amigo de seu pai como quase incestuosa. Uma mistura de emoções e personagens, uma boa história e um diretor inovador. Original em meio a clichês, elegante quando quase pornô, engraçado em meio a idiotice e eloquente cercado de diáologos sem noção. Um avesso e um sucesso total.
