“É fácil tocar blues, o difícil é sentir.”
Todos sabem que Jimi Hendrix foi um gênio da guitarra, que Jimmi Hendrix foi um dos maiores músicos da história, que Jimi Hendrix queimava seu instrumento e outras pequenas coisas como ninguém. Mas, ao mesmo tempo, já ouvi muitos se questionando o porquê de esse sujeito ser tão idolatrado, se sua música lhes parece extremamente suja e repetitiva.
Pode parecer heresia, blasfêmia e estupidez, mas é um pensamento muito perpetuado aqui, acolá, que muitas vezes permanece escondido, envergonhado, porque, diante de uma sociedade que cultua tanto sua imagem, quase ninguém tem coragem de dizer "não gosto de Jimi Hendrix, nunca gostei, não entendo nada que ele faz com aquela guitarra torta."
Hoje, no dia em que faz quarenta anos que ele partiu daqui expandir sua música e seu amor para além do nosso mundo, para finalmente beijar o céu, tenho a oportunidade e o imenso prazer de falar um pouco mais sobre sua vida, sua música, e tentar explicar, para os que respeitam, mas não entendem, porque o negão é tudo isso que afirmam que ele é.
Partindo do óbvio: Hendrix revolucionou a guitarra. Imaginem o cenário da década de 1960, quando estavam no patamar dos ídolos maiores sobre a terra Beatles, Bob Dylan e Rolling Stones. Todos artistas incríveis, que já usavam a guitarra, mas de certa forma ainda contida. Em 1967 aparece The Jimi Hendrix Experience, um Power Trio comandado por um cara que não dividia suas músicas em uma lógica tão simples de harmonia, riffs e solos. A guitarra conduz suas músicas de forma tão orgânica, como se aquelas notas tocadas descobrissem um caminho que nunca antes havia sido explorado por uma guitarra. Isso é literalmente reinventar o instrumento.
Indo um pouco mais além, como ele mesmo disse, "Tocar Blues é fácil, o difícil é sentir." Fazer peripécias com a guitarra, alguns outros já haviam feito, mas sentir o instrumento da forma que Hendrix fez, isso ninguém havia feito e até hoje nunca conseguiram fazer. A impressão é de que a guitarra era uma extensão do seu corpo, e, nos momentos de transe, a guitarra era seu próprio corpo e sua própria alma. As abstrações podem parecer banais, então o melhor é se abrir para ouvir um disco inteiro e sentir o que ele se propunha a transmitir.
"A música é um tipo seguro de droga. É mais da forma que se esperava ser. É dela que veio a nobreza, acredito, de todas as formas. Tudo se resume a ritmo e movimento." Enquanto estava vivo, Hendrix lançou apenas quatro álbuns, três com a banda citada acima, e o último, em 1970, com a banda Band of Gypsys. Todos os quatro são incríveis, e permitirão uma entrada no universo mágico que Hendrix propunha através do amor e da música.
Só para fins informativos, em 18 de setembro de 1970, Hendrix entrou em coma em um quarto de hotel de Londres, sozinho, sendo encontrado desacordado por uma equipe de paramédicos. A caminho do hospital foi constatada a sua morte em virtude de sufocamento por seu próprio vômito. Existem muitas controvérsias sobre a real causa da morte, mas provavelmente Hendrix sofreu uma overdose de pílulas tranquilizantes. "Quando eu morrer , quero que as pessoas toquem minha música, enlouqueçam, percam o bom senso e façam o que der na cabeça." Amém.
