
Um documentário sem narrador, nem traduções e com pouquíssimas falas. O que, em um primeiro instante pode parecer no mínimo chato se torna totalmente compreensível quando os personagens principais da nossa história nem mesmo aprenderam a falar ainda. Bebês ( Bébés, 2010), acompanha a história de recém nascidos em seus primeiros anos de vida e é capaz de emocionar até mesmo os mais metidos a durões.
Ponijao é de Opuwo, no norte da Namíbia e Bayar vive aos arredores de Bayanchandmani, na Mongolia. Ambos de áreas rurais. Mari mora em Tokyo, Japão, e Hattie é de São Francisco, Estados Unidos. Áreas completamente urbanas. Acompanhando seu crescimento entramos em contato com suas culturas, semelhanças e diferenças. Na convivência dos bebês com as famílias, nas primeiras descobertas e experiências é capturado o início da jornada humana.
O longa é feito de uma forma muito simples mas com enorme eficiência. Ele nos transporta para a realidade dos próprios bebês, fazendo com que possamos partilhar de suas vontades e nos surpreender com suas descobertas em uma intimidade incrível. Os adultos aparecem quase sempre de forma banal, como se fossem parte do cenário, o que nos faz mergulhar ainda mais no mundo dos nenéns.
Não há como deixar de soltar fortes gargalhadas com as molecagens e problemas pelos quais passam nossos heróizinhos. Nos pegamos vidrados em suas sagas e torcendo pelas brincadeiras. Da mesma forma, resistir à fofura sem limites das crianças, ainda que estejam fazendo coisas extremamente nojentas, está fora de questão. Tudo isso sempre sustentado por belíssimas paisagens em uma fotografia maravilhosa e uma trilha sonora estimulante, muito bem produzida e empregada perfeitamente. É incrível como uma ideia tão simples resultou em um filme que extrapola quaisquer expectativas.
A câmera é ausente na história e de forma alguma a produção interfere nos acontecimentos, o que parece impossível diante das brilhantes tomadas obtidas no filme. Mesmo sem diálogos, sem depoimentos, sem traduções e nem mesmo narração, uma edição precisa e um instinto humanista bastam para fazer com que o longa se torne fruto de grande entretenimento e ainda deixe um gostinho de ‘quero mais’. O filme é uma viagem no tempo inundada por um tom extremamente contagiante de pureza que atinge diretamente o espectador. Bebês é uma fuga do mundo perverso, estressante e preocupado para uma realidade mais terna e simples, da qual infelizmente já nos perdemos.
