
Melodrama, no teatro e no cinema, refere-se a um esquema de estrutura dramática que consiste no exagero da carga emocional da trama e de seus personagens – sempre com a intenção de controlar as reações do público. Assassinato! (Murder!, Inglaterra, 1930), um dos menos lembrados filmes da fase britânica de Alfred Hitchcock é, antes de tudo, uma aula sobre interpretação, jogo teatral e dinâmica de cena. E, para além da discussão temática, mais um thriller “hitchcockiano” de tirar o fôlego.
Assassinato! conta a história de uma atriz de fama ascendente que, após uma discussão acalorada, é acusada de matar sua rival. Diana Bering (Norah Baring) – a suposta assassina – é encontrada na cena do crime ao lado do corpo com um atiçador de lareiras manchado de sangue em suas mãos. Mas, para a contradição de sua própria defesa, não se lembra de absolutamente nada do ocorrido, sendo, portanto, incapaz de negar seu envolvimento.
É quando entra em cena o célebre ator Sir John Menier (Herbert Marshall) que, quando escolhido um dos jurados do julgamento de Diana, mantém-se contra a opinião geral e acredita na inocência da atriz. Sir John é vencido pela maioria e Diana, posteriormente, condenada à forca. A dúvida, entretanto, permanece em John que, resistente à sentença, arquiteta um plano para provar seus argumentos e tentar livrar Diana da execução iminente.
A fase britânica de Hitchcock, a título de análise, não inclui os melhores filmes de sua carreira. Mas é nítido que – considerando a escassez de recursos e a subordinação às companhias britânicas de cinema – apesar de não encontrarmos nenhum grande clássico nesse período, percebemos uma espécie de ensaio por parte de Alfred Hitchcock. Uma tentativa de coordenar seu talento como num teste; um treino; uma repetição constante dos temas que seriam aprofundados à frente quando a grande oportunidade aparecesse.
Portanto, como em qualquer outro filme da fase, Assassinato! é mais um tratado sobre uma característica essencial do cinema “hitchcockiano”. Com ênfase, dessa vez, no aproveitamento da dinâmica do teatro – trabalho de atores, o levantamento da discussão entre a linha tênue que separa a vida da arte e, naturalmente, o mais importante: a estrutura do melodrama. Estrutura que, diga-se de passagem, foi subvertida, senão reconstruída por Hitchcock na medida em que seus filmes se tornavam exemplos de sucesso de público – mas sempre recheados de técnica apurada e um respeito fenomenal ao conteúdo. Gênio, sem mais.