
Alfred Hitchcock era um entusiasta da beleza; um fascinado por perfeição estética e, naturalmente, um apreciador irrequieto da sensualidade feminina. Sendo assim, o seu fascínio pelas mulheres foi declaradamente exposto naquilo que se tornaria, emblematicamente, o arquétipo da loura fria. A loura-dama, a loura-majestade, a loura-modelo: o exemplo sublime da beleza; da sexualidade com freios sociais; da revolução contida; da elegância deflorada por amor.
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Kim Novak no set de Um Corpo Que Cai (1954) |
As louras (ou loiras, como preferirem) eram para o cinema de Hitchcock não apenas uma escolha estética baseada na beleza das moças que as interpretavam – eram, por definição, partes principais da criação de um conceito; um emblema; uma representação indefectível da visão que o diretor tinha das mulheres. Algumas louras, eternizadas pelo sucesso de seus filmes, tornaram-se ícones de uma geração – um exemplo perfeito de tendências de moda e comportamento femininos.
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"Tippi" Hedren em Pássaros (1963) |
Grace Kelly, a mais famosa das louras, é, sem dúvida, a grande musa do cinema “hitchcockiano”. Trabalhou três vezes com “Hitch”, todas em grandes clássicos do cinema: Disque M Para Matar (1954), Janela Indiscreta (1954) e Ladrão de Casaca (1955). Outra loura importantíssima é Janet Leigh, que ao protagonizar a famosa cena do chuveiro em Psicose (1960), garantiu sua eternidade na história do cinema. Kim Novak, outra loura-emblema, viveu a dupla personalidade no clássico máximo Um Corpo Que Cai, (1958).
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Janet Leigh em Psicose (1960) |
Outras louras, como Eva Marie Saint, também eternizaram seus rostos ao participar de clássicos, como aquele que é, para mim, o melhor filme de Hitchcock – Intriga Internacional (1959). Doris Day, queridinha da América nos anos 50, viveu a doce Josephine na segunda versão de O Homem Que Sabia Demais (1956). Ruth Baxter empresta seu charme em A Tortura do Silêncio (1953), e a grande estrela Julie Andrews esbanja elegância em Cortina Rasgada (1966). “Tippi” Hedren, que, diz a história de bastidores, foi assediada por Hitchcock, também foi a estrela em Marnie, Confissões de Uma Ladra (1964) e no clássico absoluto Os Pássaros (1963).
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Grace Kelly, estonteante, em Janela Indiscreta (1954) |
Hitchcock costumava dizer que os atores eram como o gado – pura massa de manobra. E, para o deleite de todos nós, fãs, que fique registrada, portanto, nossa reverência ao vaqueiro – tal qual Grace Kelly que, ao recusar o papel que seria de “Tippi” Hedren em Marnie... por já ser a Princesa de Mônaco, assinou sua carta de desculpas como “a mais devotada de suas vacas”. Todos nós, Grace; um rebanho cego de devotos.