
O que fazer ao se apaixonar pela pessoa errada? Mais do que isso, quando a sua parceira ideal é compulsiva pela arte de furtar? Mark Rutland (Sean Connery) teve que descobrir a resposta em Marnie – Confissões De Uma Ladra (Marnie, 1964). Com mais essa grande obra de suspense, Hitchcock nos faz viajar por uma de suas produções mais intrigantes.

Marnie Edgar (Tippi Hedren) é uma mulher linda e sedutora com inteligência nata para o crime. Uma ladra perfeita, porém, que esconde um grande mistério no passado. Talvez nele esteja o motivo de sua forte repulsa à homens e seu estranho pânico da cor vermelha. Quando Marnie escolhe a firma de Mark como alvo de seu próximo golpe, acaba sendo ela mesma a vítima. O empresário chantageia e força a jovem dipsomaníaca a se casar com ele, acreditando, assim, poder entender os motivos que a fizeram tornar-se uma criminosa e reabilitá-la.
Desde a ideia, inspirada em um livro homônimo, passando por um roteiro muito bem arrumado, o longa é extremamente curioso e envolvente. A história não trata apenas de uma mulher com graves traumas e que ao mesmo tempo tem uma grande capacidade de percepção e lógica, mas também de um homem com forte atração pelo que é diferente e perigoso. Ambos personagens em toda sua complexidade. Se por um lado Marnie é uma larápia compulsiva, cheia de tiques e problemas, por outro, Mark é capaz de se apaixonar loucamente por ela e chega a se divertir muito com a ideia.
Com tomadas em ângulos inesperados e alguns belos momentos de plano-sequência, Hitchcock consegue sair do óbvio sem deixar o filme confuso ou exagerado. Apostando insistentemente nas fortes sombras e zoons, o diretor redunda seu estilo próprio. A técnica é usada como método para ampliar o suspense, o nervosismo e a sensualidade das cenas. Assim, consegue nos levar à uma maior intimidade com os conflitos vividos pelos personagens.
A iluminação é importantíssima e ajuda a criar as emoções certas no espectador, além de fazer com que o suspense perdure nos momentos mais fortes da trama. A belíssima trilha sonora é instigante e perfeita ao mesclar-se com a história. Até mesmo quando a escolha é um sutil corte no áudio, é feita de forma precisa e funciona muito bem. Bastante trabalhado nas técnicas que marcaram produções anteriores de Hitchcock, Marnie é o que podemos chamar de um filme com a cara do diretor.