
Sylvio Back tinha em mãos um desafio: contar através de relatos a complexa história da Guerra do Contestado. Em seu último longa lançado agora no Festival de Gramado, O Contestado – Restos Mortais (Brasil, 2010), traz os vestígios deste conflito que durou de 1912 até 1916 no sul do país. Envolvendo Paraná e Santa Catarina, a disputa territorial também se relacionou com concepções religiosas vinculadas ao fanatismo e ao desejo pela volta da monarquia.
A denominação “Contestado” foi utilizada devido à oposição feita à doação de terras aos madeireiros e à empresa Southern Brazil Lumber & Colonization Company instalada como símbolo de progresso e representante do atual sistema político capitalista. Os territórios em questão representavam os limites entre os dois estados brasileiros.
O diretor exagera na polifonia de seu documentário, explorando diversas fontes de sabedoria relacionadas ao período. Jornalistas, historiadores, escritores, artistas e nativos compõe o trabalho de reconstrução de uma memória histórica aparentemente perdida. Ainda assim, o filme se aprofunda na conotação religiosa e realiza uma jogada audaciosa: 30 médiuns incorporam militares, jagunços, caboclos e sertanejos que presenciaram a guerra, lutaram ou participaram de alguma forma do movimento. Sem nenhuma dúvida, o maior acerto de Sylvio.
Infelizmente, o documentário falha ao se estender por duas horas e trinta e cinco minutos. O espectador começa a imaginar que aquela quantidade de informação, apesar de muito bem organizada, poderia muito bem ser classificada como um programa televisivo. Faltou um pouco de bom senso em relação ao ritmo, necessário para um produto cinematográfico, e que foi prejudicado devido ao cansaço audiovisual.
Recebe-se um relativo panorama histórico, político, econômico e social de uma fatia da história um tanto quanto obscurecida por não seguir um viés ideológico claro e proporcionar diversas interpretações. No entanto, ao final, ficamos abarrotados de um conteúdo espesso demais… que sentiu falta de um bom corte.
