
Quando o travesti Madona (Igor Cotrim) pediu uma pizza de palmito gigante, quer dizer, uma pizza gigante de palmito, não imaginou que o motoboy, quer dizer, a motogirl, poderia ser seu futuro grande amor. Da mesma forma, Elvis (Simone Spoladore), uma lésbica apaixonada pela fotografia e pelo fotojornalismo, jamais pensou que o bico de entregadora de pizza poderia proporcionar o encontro com a pessoa que mudaria sua vida. Nesse jogo de sexualidade, homem e mulher, masculino e feminino, Elvis e Madona (Brasil, 2010) mistura conceitos e preconceitos em uma comédia romântica que vai além do diferente.
Marcelo Laffitte, cineasta de Volta Redonda recém saído de um caminho de curtas e documentários, estreia uma poderosa e delicada narrativa que transpõe as barreiras dos famigerados clichês que saturam esse estilo de filme. O longa foi filmado em 2008 e inspirado em uma história típica de lavagem de roupa na televisão: um pai que resolve virar travesti, abandona a família e depois se apaixona pela namorada do filho. Estranho? Espere para ver o resultado que partiu dessa inspiração curiosa.
Ambientada no tradicional bairro de Copacabana, a obra consegue transmitir leveza e humor com temas que, a princípio, são recorrentemente cercados de moralismo. Um transexual extremamente encantador que transborda feminilidade e uma lésbica cheia de pegada e trejeitos masculinos conseguem construir um história de amor sem forçar a barra para se consolidar como engraçadinha: o roteiro é envolvente, bem amarrado e domina com total maestria a involuntária graça do vocabulário gay e seus trocadilhos.
As referências pop, por final, são um ponto claro e um tempero a mais. Presente não apenas nos nome dos personagens como também permeando toda a direção de arte, fotografia e figurino que compõe o visual nesses 105 minutos, o ar “pop art” é claramente trabalhado e muito bem harmonizado. Um escândalo, arrasa do início ao fim. Fica a dica.
