
Nenhuma mostra de cinema latino que se preze poderia ficar sem um filme mexicano, e no Festival de Gramado não é diferente. E é fácil percebermos que o penúltimo da Mostra Competitiva Latino-Americana veio do hemisfério norte. Perpetuum Mobile (México/Canadá/França, 2009), que significa "movimento perpétuo" em latim, foi escrito, dirigido, editado e co-produzido pelo jovem, porém experiente, Nicolás Pereda e esteve na seleção oficial do Festival de Cannes 2009.
O filme gravita na conturbada relação entre Gabino (Gabino Rodriguez) e sua mãe (Teresa Sánchez) que, mesmo morando juntos, estão sempre distantes. Ela vive enchendo o filho de reclamações e pedidos, que ele nunca atende, fazendo com que ela reclame ainda mais. Ele é comparado o tempo todo com o irmão mais velho, Miguel, que já saiu de casa fazendo a mãe pensar que está em uma situação financeira melhor que a do caçula.
A mãe demonstra mais carinho pelo cachorro de estimação e pelo filho que nunca a visita do que por ele e vive em um estado de constante irritação, causada principalmente pelas suas expectativas frustradas em relação ao filho e à sua própria vida.
Gabino é caminhoneiro e, ao lado de seu amigo Paco, vai ganhando a vida fazendo mudanças, despejos e pequenas trapaças. Não busca traçar um novo caminho e vive acomodado. Até que, com a morte da avó, ele se vê sozinho com sua mãe em uma situação familiar dolorosa e eles voltam a se unir, mesmo que por pouco tempo.
Como é típico de produções mexicanas, o filme se arrasta mas, ainda assim, nos mantém ligados. Em seu terceiro longa-metragem, Pereda mostra que sabe muito bem o que está fazendo. Explora com propriedade os enquadramentos subjetivos e movimentos de câmera, nos puxando para a tela como se fôssemos parte da história. A escassa trilha sonora aparece nos momentos certos e os cortes quase imperceptíveis reforçam o realismo da trama.
Perpetuum Mobile pode não ser o melhor filme mexicano de todos os tempos, mas é um belo exemplar. Não chega a ser datado, mas é extremamente atual. Mostra o quanto é fácil manter sua vida estagnada, mesmo fingindo estar em movimento constante.
