sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Video-Confusão [Festival de Gramado]


Uma mulher fuma em seu apartamento, observando as janelas dos vizinhos. Crianças de rua correm pelos vagões do metrô com uma câmera de vídeo na mão. Uma mulher, que mora embaixo de um viaduto, cozinha. Um velho camelô atravessa a rua. Um grupo de jovens bebe e fuma numa pedra. O que todos esses fragmentos têm em comum? Pois é, nada. A não ser o fato de serem parte do confuso Ponto Org (Brasil, 2010), uma esuizofrenia videográfica dirigida por Patrícia Moran.


Nos primeiros minutos de filme, imagens desconexas nos fazem achar que nada ali faz sentido. Até que, finalmente, os personagens começam a se encontrar e a se comunicar. E é a partir desses encontros que passamos a ter certeza que, de fato, não faz sentido. Sempre sobra uma ponta solta e, se foi uma tentativa de prender o público, não deu certo.


Ainda assim, vale uma tentativa de resumir o enredo. A mulher que espiava pela janela está fazendo um documentário em vídeo sobre moradores de rua. Foi ela quem emprestou a câmera aos meninos, para que registrassem sua realidade. Assim aparece a senhora que cozinhava debaixo do viaduto. A mulher a transforma em "personagem" de seu filme e acaba criando uma relação mais próxima e conhecendo seu passado e sua família. Os outros jovens, os da pedra, são amigos da moça do documentário e estão produzindo um game pra um gringo.


E tem também o camelô que atravessou a rua. É, tem o camelô. Interpretado por Paulo Cesar Pereio, ator homenageado com o Troféu Oscarito no 38º Festival de Gramado, o personagem aparece em vários momentos do filme, sem de fato criar uma unidade na trama. Se foi uma tentativa de linearidade forçada, também não deu certo.


A linguagem do filme, supostamente inovadora, na prática confunde o público, causando até certa irritação. As tais fronteiras sociais retratadas se misturam em um painel no qual acabamos sem saber onde está o limite entre a realidade e a ficção das filmagens. Isso poderia ter sido um ponto positivo, se tivesse sido proposital e bem articulado. É esse tipo de filme que faz o espectador abandonar a sessão antes do fim, reforçando aquela impressão típica que paira sobre o cinema brasileiro: não passa de uma desculpa para explorar uma temática social, geralmente mal aproveitada. A nota não vai para nada além das atuações e da tentativa de fazer algo.

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