segunda-feira, 9 de agosto de 2010

O Filme dos Projetos [Festival de Gramado]


Três personagens envolvidos em uma trama não linear e supostamente surpreendente. Basicamente, é essa a proposta de 180º (Brasil, 2010), com Eduardo Moscovis, Mallu Galli e Felipe Abib. A estrutura não chega a ser inovadora, mas ainda chama, e muito, a nossa atenção. E, apesar das grandes chances dos cariocas reconhecerem alguns cenários, consegue ser uma história quase universal. Um triângulo amoroso é sempre algo bem cinematográfico.


O ponto de partida do filme é a publicação do livro de contos "180º", inspirado por uma caderneta de anotações que o tradutor Bernardo (Fulano) encontrou em um bar quando estava bêbado. Nela, boa parte do livro já está escrito, intitulado "O Livro Dos Projetos". Ele leva o manuscrito para sua amiga Anna (Galli), que tem uma editora que o contrata como freelancer e por quem ele é apaixonado desde a época em que eles trabalhavam em um jornal e ela era mulher do jornalista econômico Russel (Moscovis). O último capítulo do livro conta o episódio da caderneta perdida, mas o autor não confessa a ninguém que ela é real.


Já separada de Russel, que foi morar no sítio do falecido pai, Anna se envolve com Bernardo, que escondeu até mesmo dela a história real da caderneta encontrada. Assim, ela acaba decidindo usar justamente esse capítulo como estratégia de lançamento do livro, que rapidamente se torna um best-seller e tem seus direitos de adaptação vendidos para a televisão. Logo após o lançamento, o casal recém-formado vai passar uma temporada no sítio do ex de Anna e é lá que vários acontecimentos dramáticos se iniciam, e vários segredos dos três vão sendo revelados. E é aí que os problemas do filme começam.


É justamente a falta de linearidade que atrapalha o possível suspense, já que a cada reviravolta o público já tem elementos suficientes para desvendar seu desfecho. Mesmo assim, o filme consegue prender nossa atenção durante boa parte do tempo mas, infelizmente, não impede que reparemos em alguns defeitos que passariam desapercebidos se a trama fosse realmente envolvente.


Apesar de ter uma vasta experiência em curta-metragens, é o primeiro longa-metragem do diretor, Eduardo Vaisman, e a falta de experiência é notável. Algumas decisões de enquadramentos ou movimentos de câmera, excluindo-se os mais subjetivos, simplesmente não se justificam, mas a excelente fotografia (padrão, mas ainda assim muito bem feita) compensam a maioria delas, aliada aos cenários bem compostos e bem iluminados. A edição, de um modo geral, é bem condizente com o clima do filme, mas perde um pouco o ritmo em alguns momentos. E a trilha sonora extremamente clichê que, exatamente por isso poderia criar o clima de suspense, acaba desconstruindo-o.

A equipe do filme, em Gramado.

Como qualquer filme, seja ele nacional ou estrangeiro, 180º reúne uma infinidade de qualidades e defeitos. O problema é pra que lado a balança tomba. Certamente tem a capacidade de entreter muita gente, especialmente em mostras e festivais, mas, infelizmente, não foi feito para o grande público. Fazer cinema de vanguarda não é pra qualquer um.

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