terça-feira, 24 de agosto de 2010

O Expressionismo no Chá das 5 [Especial Alfred Hitchcock]


As referências de um diretor de cinema são, como em qualquer produção artística, uma leitura das influências para que um estilo seja desenhado. Hitchcock, no simpático O Mistério do Número 17 (Number 17, Inglaterra, 1932), foge um pouco de seu padrão para recriar uma atmosfera inspirada no Expressionismo Alemão, à época considerada a principal escola cinematográfica europeia.



A trama desenvolve-se a partir de um suposto crime ocorrido dentro de uma casa numa rua pacata de Londres. Um roubo de joias; um suposto cadáver; uma quadrilha; um detetive infiltrado e uma ingênua e típica dama inglesa misturam-se num enredo com ecos de Arthur Conan Doyle, criador do charmoso detetive Sherlock Holmes. E “Hitch” – o maior dos contadores de histórias de suspense para o cinema – produz uma experiência estética incomum ao seu estilo clássico.


Responsável por lançar ao mundo cineastas-artistas como Fritz Lang e F.W. Murnau, o Expressionismo foi um marco estético na história do cinema. A partir da desconstrução e deformação de elementos da geometria, a escola alemã determinou um conceito de cenários baseados em cenários pontiagudos; cortados por ângulos retos e, no que também tange a questão estética, uma utilização profunda das sombras através da técnica do chiaroscuro, contrastando o preto profundo com o branco total.


Ao tomar emprestada a lógica  de estética do Expressionismo, Hitchcock concentrou-se, como em poucas vezes durante sua carreira, mais na questão da imagem do que propriamente no roteiro do filme. O resultado é um filme belíssimo visualmente, mas irregular narrativamente. E, ainda assim, podemos notar uma das características mais marcantes da obra de Hitch: o humor negro. Com tiradas beirando as gags e diálogos irônicos, percebemos aqui o estilo que seria, mais a frente, reutilizado com genialidade em obras como Festim Diabólico e O Terceiro Tiro.


As obsessões de Hitchcock estão, naturalmente, em quase todos os seus filmes. Se aqui perdemos a força da loura fria, inexistente na trama, ganhamos mais uma sequência de cenas com um trem – objeto de admiração do diretor. Outro dado importante: esse é o último filme de Hitchcock para a British International Pictures, uma das principais fomentadoras do primeiro cinema de Hitch. Poucos anos depois o diretor sairia de Londres para filmar nos Estados Unidos e, para nosso deleite, transformar o cinema para sempre.
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