terça-feira, 10 de agosto de 2010

Irrealismos Cotidianos [Festival de Gramado]


Foi exibido no Festival de Gramado o último trabalho de um dos atuais queridinhos do cinema brasileiro, Cauã Reymond, que não decepciona e continua provando que, ao contrário do que diziam quando começou sua carreira, é sim um bom ator. Não Se Pode Viver Sem Amor (Brasil, 2009), apesar de já ter sido aplaudido em alguns festivais, foi ligeiramente rejeitado pela plateia fria de Gramado. A crítica, no entanto, parece ter compreendido o filme um pouco melhor que o público. Isso não é necessariamente um fator positivo.


Pra começar, é claro que Cauã não é o único ator do filme, nem mesmo o único bom ator. Dividem a tela com ele Simone Spoladore, Fabiula Nascimento, Ângelo Antônio, Simone Spoladore e o estreante Victor Navega Motta. Victor, aliás, foi parar no filme por acaso. O menino de 12 anos acompanhava um amigo nos testes, e acabou "roubando" o papel, o que o fez ir parar em outras produções, como "Chico Xavier". Há também uma participação especial de Maria Ribeiro, que também tem aparecido em metade dos bons filmes feitos no país.


A história fragmentada de Não Se Pode Viver Sem Amor é costurada pelo menino Gabriel (Motta), que vai para o Rio de Janeiro com Roseli (Spoladore) em busca do pai desaparecido. Seu caminho se cruza com o do professor Pedro (Antônio), em uma crise entre a escolha pela carreira ou pela mulher que ama (Ribeiro), e do advogado mal-sucedido João (Reymond), que presisa de dinheiro com urgência para tirar Gilda (Nascimento), por quem é apaixonado, da prostituição.


As vidas dos três personagens centrais vão se enrolando aos poucos, de forma linear porém confusa, e através de alguns fatos estranhos que envolvem o garoto  suas vontades, cria-se um belo clima de realismo fantástico. Os detalhes de cada parte da história vão sendo revelados em doses homeopáticas, nos levando a duvidar o tempo todo de nossas próprias interpretações, possível motivo do afastamento do público comum: à primeira vista, é apenas um roteiro confuso e mal construído, e não uma rede de quebra-cabeças bem pensados.


Tecnicamente, de um modo geral, o filme também é bem competente. Trilha sonora agradável, montagem sintética e uma das melhores aberturas que já vi no cinema nacional. Resta saber se a perda de foco em algumas cenas simples foram propositais...




Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...