
“Se queres ser universal, fala da tua aldeia”. Rejane Zilles, diretora de Walachai, traduziu esta frase de Tolstoi em um gracioso documentário sobre uma pequena localidade no estado do Rio Grande do Sul. A palavra Walachai, em alemão antigo, significa lugar longínquo, perdido no tempo; com a câmera de Rejane, passeamos pelas casas, plantações, e pelo povo de lá e nos sentimos realmente transportados para uma região com um ritmo completamente diferente do qual vivemos.
Neste povoado se fala um dialeto de origem alemã diferente do alemão tradicional que foi transmitido geração após geração e não era reconhecido na Alemanha. Com o passar do tempo, os habitantes aprenderam o português mas até hoje não se sentem a vontade com a língua. Assim, permanecem reclusos em um cultura fechada, onde não são exatamente alemães, nem completamente brasileiros.
As famílias trabalham com a terra ou nas duas fábricas próximas. Na lavoura, a criança ajuda feliz a colher as batatas. A senhora idosa toca o sino há mais de 50 para acordar o povoado assim que o sol nasce. Os depoimentos dos habitantes, apesar de perfeitamente ricos e cheios de história, não falam mais do que essas simples imagens que a fotografia capta com uma delicadeza e um respeito que quase pedem licença.
O filme transmite, não uma possível conotação de um tedioso bucolismo, mas sim uma felicidade envolta na simplicidade de se viver satisfeito e realizado. Cada pequena amostra de Walachai, cada sorriso, cada palavra que mistura as línguas, é uma transposição para um momento único. Com toda certeza, um conceito de desenvolvimento completamente peculiar que merece a atenção deste mundo globalizado. E, obviamente, do cinema também.
