
Interior da Venezuela. Uma família pobre se levanta para cuidar dos animais. Ordenham a vaca, alimentam aves, cabras e o cão. Tudo na mais perfeita normalidade. Paz. Em algum outro lugar, os noivos se preparam para o casório. E, talvez perto, talvez longe, pescadores voltam do mar e recolhem suas redes, brigando com as gaivotas. Em um outro cenário, mulheres choram no funeral. Imagens poéticas, belas. Simplicidade, até demais. Um dia normal da vida de pessoas normais no interior de um país problemático. Normal? Sim. Esse é Historia de Un Día (Venezuela, 2009), de Rosana Matecki.
A princípio a proposta parece boa, até um pouco inusitada, apesar de não muito original. Na prática, um filme longo e arrastado, que não passa de uma sequência de belas imagens em uma ordem quase aleatória. Um dia na vida de algumas famílias e... nada mais. Nada acontece. Os animais se comportam como qualquer outro da espécie, ninguém interrompe o casório, o caixão continua descendo pela cova, as gaivotas não conseguem roubar os peixes. Matecki quis fazer um documentário contemplativo e, sendo assim, foi muito bem sucedida. Tudo o que o filme faz é ficar lá, parado, observando, observando...
Das poucas palavras que são proferidas ao longo da obra, poucas são compreensíveis e nenhuma é legendada. Isso significa que a falta de linguagem verbal é proposital dentro dessa linguagem cinematográfica. Não sei dizer se seria um tentativa de universalizar o filme, mas o contexto é tão específico, que se torna uma das produções mais regionais a que já assisti.
É bem verdade que algumas cenas arrancam reações curiosas da plateia, como a parte em que uma cabra é estripada para virar churrasco, ou os momento em que estranhos rituais são retratados. Mas, a essa altura do filme, essas reações, principalmente as gargalhadas, no segundo caso, me soam mais como um deboche do que como compreensão. Várias vezes percebi uma luminosidade vindo do fundo da sala, sempre que alguém abria as cortinas para abandonar a sessão.
A trilha sonora monótona se mistura com os sons cotidianos, reforçando a falta de clima do filme. Não há um clímax. E a maravilhosa fotografia, que aproveitou os mais belos enquadramentos, acaba parecendo um desperdício. Na minha opinião, um filme deve ser feito para ser visto e, como consequência, ser comentado. Mesmo que seja péssimo. Aliás, os piores filmes são os que geram as mais divertidas discussões fora da sala. Nesse caso, não há o que falar sobre o filme. Nem ele fala sobre si mesmo.
