quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Psicografando Conforto [Festival de Gramado]


No ano do centenário do médium mais famoso do Brasil, e depois do filme biográfico de Daniel Filho, temos mais uma produção dedicada à obra dele. As Cartas Psicografadas Por Chico Xavier (Brasil, 2010), de Cristiane Grumbach, mesma diretora de "Morro da Conceição", foi apresentado na Mostra Panorâmica do Festival de Gramado. A exemplo do que havia acontecido em Paulínia, o filme não pareceu empolgar o público.


Talvez a reação dos espectadores seja resultado de uma espécie de promessa mal cumprida. A sinopse descreve um filme que busca respostas através das histórias de algumas famílias que receberam cartas enviadas por seus falecidos filhos através da psicografia de Chico Xavier. Perguntando como eles se sentiram com a carta, se haviam identificado os entes queridos, como lidaram com a perda e coisas afins, acaba assumindo um tom excessivamente jornalístico. Isso não seria de todo ruim, se fosse bem executado.


E o "jornalismo cinematográfico" também se torna um pouco pretensioso quando tenta encontrar respostas acerca do sentido da vida e da morte. Será que alguém, vivo ao menos, realmente teria respostas para perguntas desse tipo? Alguns familiares até tentam, sem sucesso. As Cartas... se tornou apenas uma série de relatos doloridos de mães que perderam seus filhos e encontraram algum conforto no espiritismo. Um tema interessante e muito rico que, infelizmente, não foi bem aproveitado pela diretora.


Grumbach, aliás, foi assistente de direção de Eduardo Coutinho, um dos mais respeitados documentaristas do Brasil, em cinco de seus últimos filmes. Não parece ter aprendido muito com as experiências. É nítida a falta de uma estrutura bem definida para o filme, que reflete a falta de um pulso firme guiando toda a produção. Séries de erros técnicos e estéticos se acumulam: o longa-metragem já começa com uma aparição nada sutil do boom no canto da tela, falha perfeitamente evitável. O filme é um grande "quase". A fotografia é quase boa, a edição é quase eficiente, as entrevistas são quase interessantes e a ideia é quase original. É um quase filme. E não há espaço para "quase filmes" no mercado.

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