
Um plano-sequência é um recurso cinematográfico que consiste na filmagem de uma sequência inteira em um único plano, ou seja, uma cena sem cortes. Esse é o princípio que rege a estética de Festim Diabólico ("Rope", EUA, 1941), um dos trabalhos mais famosos de Alfred Hitchcock e seu primeiro filme colorido. A trama foi baseada na peça homônima de Patrick Hamilton que, por sua vez, foi inspirada pelo famoso caso Leopold & Loeb, no qual dois estudantes abastados cometeram um crime semelhante, em 1924.
No filme, dois jovens ricos e brilhantes, Brandon e Phillip, sequestram e assassinam um colega, David, apenas pelo prazer de cometer o crime perfeito. Como um último desafio, convidam amigos, professores e familiares da vítima para uma reunião, na qual servem o jantar sobre o baú onde foi guardado o corpo da vítima. Ao longo da "festa", fazem diversas menções incômodas sobre o desaparecimento do colega e o assassinato, incomodando seus convidados. O filme traz várias referências explícitas ao conceito do "Super-Homem" formulado por Friedrich Nietzsche em seu livro "Assim Falou Zaratustra". Trechos do livro foram usados pela defesa de Leopold e Loeb durante seu julgamento, como "justificativa" para o crime.
A ideia de Hitchcock era rodar um filme inteiro em plano-sequência. Devido às impossibilidades técnológicas da época, quando a filmagem em película não permitia planos superiores a 10 minutos devido ao tamanho do rolo e do chassis de filme, o diretor e seu fotógrafo, Joseph A. Valentine, chegaram a uma solução genial. Na verdade, o filme de 80 minutos foi filmado em pequenas sequências de 4 a 10 minutos, todas iniciadas e encerradas com o frame "coberto" por uma mesma cor (por exemplo, com a câmera mostrando apenas as costas do paletó de um personagem). Essa técnica permitiu que fossem feitos apenas oito cortes, todos eles imperceptíveis, transformando Festim Diabólico não só no primeiro longa-metragem em plano-sequência, mas também em uma das obras mais lembradas do diretor inglês.