terça-feira, 10 de agosto de 2010

Em Nome do Pai [Festival de Gramado]


Um advogado, preso político, assassinado aos 30 anos deixou para trás sua família. Irmãos, pais, esposa e um filho com apenas um ano de idade. O menino foi obrigado a crescer entre os fantasmas de um corpo nunca encontrado, portanto nunca enterrado, e as memórias ocultas de familiares cuja dor não permitia que o assunto fosse comentado. Foi em busca de seu pai que o diretor German Berger realizou o tocante Mi Vida Con Carlos ("Minha Vida Com Carlos", em tradução livre, Chile/Espanha/Alemanha, 2009), e, com isso, exibiu também um dos períodos mais obscuros da história chilena: a ditadura de Augusto Pinochet.

Retrato de Carlos Berger
Carlos Berger foi morto em 19 de outubro de 1973, fuzilado no deserto chileno pelo chamado "esquadrão da morte", uma divisão do exército criada por Pinochet com a finalidade exclusiva de eliminar os prisioneiros políticos mais incômodos e ocultar seus cadáveres. Diz-se que exigiu que seu capuz fosse removido para que pudesse encarar seus executores, resistência que o fez ser esquartejado e, consequentemente, nunca ter seus restos mortais encontrados.

Carmen Berger, em entrevista à tv chilena

German Berguer transformou todo esse trauma em um belo filme, sem rancores ou pedidos de justiça. Tentou apenas resgatar a memória do pai falecido, com sucesso. Para isso, reuniu a família, dispersa desde o assassinato, e os confrontou com a necessidade de falar sobre o assunto para que, finalmente, toda a dor fosse encarada e superada. Refez os últimos passos de seu pai, que se misturam com a história da ditadura militar chilena, considerada uma das mais terríveis já existentes. 

O general Pinochet, sentado, e sua junta militar

Aos de memória mais fraca, lembrou quem foi Pinochet, e como uma absurda manobra administrativa o libertou da prisão, em Londres, para que se tornasse um senador vitalício, em Santiago. Mostrou também a luta do povo chileno em busca de liberdade e justiça, e como sua mãe, Carmen Berger, se tornou uma das ativistas mais importantes pelo processo de redemocratização do país.


Além de toda a bela e tocante história, o filme apresenta qualidades técnicas impressionantes. A trilha sonora está perfeitamente encaixada, sem tentar exagerar o drama familiar. A fotografia é belíssima, e a pesquisa por material de arquivo foi impecável. A edição também merece destaque, por montar todo esse material na ordem perfeita, sem sensacionalismos. A finalização fez um trabalho notável, nem sempre a utilização de diversas mídias e formatos em um mesmo filme se dá de forma tão harmoniosa. E é claro que tudo isso se deu graças à boa direção, que resistiu ao provável impulso de transformar tudo em uma simples crônica familiar.


Mi Vida Con Carlos é mais do que um documentário familiar. É mais do que um excelente filme. É uma verdadeira aula de história, e deve ser encarado com atenção por todos nós, latino americanos. O Chile não foi o único a sofrer com uma ditadura militar nessa época...


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