
Corre pelo mundo do cinema a máxima de que um diretor deve expor, em cada um dos frames de seus filmes, um estilo que o defina – uma caracterização de seu trabalho que proporcionará ao espectador um reconhecimento imediato da autoria de uma determinada obra. E, para o deleite dos fãs que nem sob tortura admitiriam o contrário, é possível, sim, reconhecer um legítimo Alfred Hitchcock de primeira. Tudo isso já no seu décimo longa-metragem, o charmoso Chantagem e Confissão (Blackmail, Inglaterra, 1929).
Eis que um misterioso chantageador, ciente da participação da garota no crime, aproxima-se sorrateiramente do casal com a intenção de tirar proveito do desespero de Alice e, quem sabe, lucrar algum dinheiro com seu silêncio. É quando o filme incorpora o ritmo característico dos melhores suspenses de Hitchcock: tensão, neurose, cortes precisos e uma utilização belíssima dos planos detalhes – uma das maiores marcas do cinema do diretor.
A outra parte, já mencionada no início desse mesmíssimo texto, diz respeito ao estilo inconfundível de um dos maiores ícones da história do cinema. Portanto, podemos ver tudo lá: os travellings velozes, o uso narrativo do zoom, o famoso enquadramento dos joelhos até os ombros e, como nos clássicos O Homem Que Sabia Demais e Intriga Internacional – uma cena de perseguição passada em um grandioso ponto turístico (dessa vez o British Museum). A primeira década dos quase sessenta anos da brilhante carreira de “Hitch” se encerrou com essa pequena obra que, sobretudo após tantos anos, parece prever o óbvio: criava-se, ali, uma lenda.