
O diretor Rodrigo Siqueira, jornalista por formação, não se contentou em fazer um simples documentário. Em seu primeiro longa agora no circuito comercial, Terra Deu Terra Come, com previsão de estreia para o dia 24 de setembro, Rodrigo brinca com o conceito de cinema documental. Ele trabalha o que alguns filmes da Mostra Panorâmica do Festival de Gramado não conseguiram: uma obra que se encadeasse e se misturasse com a ficção, se desvencilhando dos moldes de um filme experimental e seguindo um rumo próprio.
Rodrigo Siqueira, diretor do filme |
Pedro de Almeida, 81 anos, foi garimpeiro a vida inteira e é um dos últimos representantes da cultura africana que guarda na memória os vissungos, uma espécie de canto. No Quilombo Quartel do Indaiá, distrito de Diamantina, Minas Gerais, essas canções acompanham os cortejos fúnebres da região e são compostas por versos em um dialeto africano misturado com português chamado “banguela”. Iniciando e completando o trabalho de Rodrigo, o simbolismo da morte é apenas um elemento conectivo.
O diretor utiliza todo o material de Pedro como um meio termo entre realidade e representação. O personagem é real até um certo ponto que é invisível à percepção do público. Ao vislumbrar o negro velando o corpo de João Batista, que morreu aos 120 anos, o espectador começa a mergulhar em um ambiente híbrido que posteriormente se revela também permeado por folclore e crenças. Como o diabo se revela? Do que ele é capaz? Ele realmente existe?
Com mais de 40 horas de filmagem em mãos, esta produção seguiu um caminho diferente, curioso e certamente é um novo estilo de composição cinematográfica que pede para dar certo.
