domingo, 9 de outubro de 2011

Eli, Eli, lamá sabactâni [Festival do Rio]




Uma personagem principal que pouco fala e muito observa; isto dá a sensação de fazer trabalho de campo. Típica em filmes que desenvolvem a narrativa baseada num realismo social, a certeza de estar vendo tudo pelos olhos da personagem, em Corpo Celeste (2011, Alice Rohrwacher, Itália), por vezes dá lugar à curiosidade de observador invisível – como naquela frase popular que fala sobre querer ser uma mosca para ver tudo de perto. Uma tentativa um tanto arrojada de trazer a cinematografia italiana para os padrões atuais. O filme é capaz de deixar imagens permanentes na memória.


A veracidade latente em todo o roteiro, até mesmo nas menores observações, faz o longa se tornar interessante; quando combinada à atuação impecável da pequena Yle Vianello, o filme torna-se marcante. Desde as poucas falas destinadas a Marta (personagem de Yle) até a fotografia, tudo é claramente construído baseado na personalidade curiosa e sutil da menina e suas impressões sobre a rigorosa devoção religiosa a qual é submetida após mudar-se da Suíça para Calábria, na Itália.



O mundo visto através dos olhos de Marta é carregado de mensagens contraditórias. Uma irmã mais velha que superprotege a mãe por meio da censura; uma professora de catequese hipócrita; um padre que, vez ou outra, deixa escapar a sugestão de uma fé caducante. O longa é um ótimo exemplo de desenvolvimento de histórias entrelaçadas sem que seja necessário recair sobre a velha fórmula de paralelos explícitos. Para a frustração da maioria, no entanto, o filme de repente se interrompe, nos deixando a sensação de estar vagando pelo espaço. Sem nem anunciar que já está na cena final, ele simplesmente acab...

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