
Em uma lentidão nervosa, “Michael” (Áustria, 2011) carrega o público para a rotina íntima de um pedófilo. O novo longa do diretor Markus Schleinzer é simples, mas prende, analisa e incomoda muito.
Michael é um corretor de seguros que transparece uma vida comum. Perto de receber uma promoção no trabalho, ele interage normalmente com os colegas em sua pequena casa no subúrbio. Apesar das aparências, ele esconde um terrível segredo. Michael mantem um menino de 10 anos prisioneiro em seu porão, do qual costuma abusar sexualmente. Com uma estrutura peculiar, ambos aprendem a com viver, porém o menino a cada dia se revolta mais.
O longa, quase sem falas, aprofunda-se na rotina dos personagens. Aos poucos, os traços doentios de Michael vão se tornando evidentes, porém apenas em seus momentos mais íntimos, o que deixa clara a dificuldade de reconhecer um pedófilo socialmente. A obra é quase um estudo antropológico sobre o tema. Com quadros bem formados e estilo contemplativo, o jogo de câmeras do filme é quase parnasiano, explorando cores e texturas, impondo análises e sensações. Também não há qualquer tipo de trilha sonora, apenas efeitos que, por sua vez, são muito bem captados.
Apesar do tema complicadíssimo, Schleinzer encontrou uma maneira forte porém cuidadosa para tonalizar um problema que sempre existiu e segue. Penetramos na casa, nos costumes do doente e convivemos com sua lógica e rotina. O filme segue uma estética equilibrada, monótona, mas para os que suportarem o assunto e, principalmente, buscam entender melhor, “Michael” é um prato cheio.
